Criar maquetes de papelão, tocar um instrumento de ouvido, ser faixa preta em karatê, ter formação em teatro. Durante muito tempo, essas habilidades ficavam guardadas no rodapé do currículo — quando apareciam. Eram tratadas como hobbies, curiosidades quase irrelevantes. Mas isso está mudando, e rápido.
As chamadas med skills, ou habilidades inusitadas, vêm ganhando protagonismo em processos seletivos e na composição de times que precisam inovar sob pressão. Essas competências não seguem a lógica tradicional de um currículo linear. Elas falam de um mundo vivido, de criatividade prática, de repertório emocional e, principalmente, de autenticidade.
Segundo um estudo da Harvard Business School, profissionais com vivências diversas — incluindo habilidades artísticas, culturais ou esportivas — apresentam até 34% mais capacidade de resolver problemas de forma inovadora do que colegas com perfis técnicos homogêneos. Outro dado relevante vem da consultoria Michael Page: 67% dos gestores entrevistados afirmam considerar as med skills um diferencial competitivo real, especialmente em cargos de liderança com funções criativas.
Na prática, isso significa que quem sabe improvisar no teatro também pode improvisar numa crise. Quem domina uma arte marcial, muitas vezes domina o controle em situações de pressão. Quem costura, dança, atua ou desenha pode trazer um olhar lateral que escapa das planilhas, mas faz toda a diferença em reuniões estratégicas.
Essa virada de chave diz muito sobre o que estamos valorizando agora: gente com potência real — não só com aparência profissional. Pessoas que se conhecem, que trazem histórias únicas e que têm coragem de apresentar o que antes escondiam.