A elevação da tarifa de importação do café brasileiro pelos Estados Unidos preocupa produtores e exportadores. O Brasil é o maior fornecedor mundial do grão, enquanto os EUA são o maior mercado consumidor.
Para explicar os impactos da medida e o que está sendo feito para tentar reduzir os prejuízos, o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, conversou com a 98 News nesta sexta-feira (1/8). Ele afirma que o setor está mobilizado para tentar ampliar a lista de produtos com isenção da sobretaxa.
“A nossa estratégia é muito firme e a gente acredita nela, que é seguir municiando de informações sempre que necessário o comitê organizado para a negociação, que é liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Internamente, há mobilização e união; e, externamente, estamos em contato permanente com os nossos membros, parceiros da National Coffee Association nos Estados Unidos, redes de cafeterias e todo o mundo dos negócios, levando informação econômica para diferentes níveis do governo norte-americano”, explicou.
O Brasil exporta cerca de 8,1 milhões de sacas de café por ano para os EUA, o que representa US$ 2 bilhões em receita cambial. O país responde por 33% do mercado americano, composto por 80% de cafés arábica, 10% de canéfora (conilon/robusta) e 10% de cafés solúveis.
Marcos Matos lembrou que, apesar do impacto esperado, a dependência mútua entre os dois países é grande. “É muito difícil inverter essa lógica para o Brasil, e eu diria impossível para os Estados Unidos. Eles não podem abrir mão do café brasileiro, que dá corpo, acidez e dulçor aos blends. O lado econômico e o senso de mercado mostram que, mais cedo ou mais tarde, o café terá que ser favorecido”, disse.
Volatilidade e expectativas do mercado
O setor acompanha a volatilidade das cotações internacionais. Entre fevereiro e maio, a libra do café arábica chegou a US$ 4,30, o maior valor desde os anos 1970. Atualmente, a cotação varia entre US$ 2,80 e US$ 3, ainda bem acima da média histórica.
Segundo Marcos Matos, os efeitos da tarifa ainda não chegaram ao produtor, já que a sobretaxa começa a valer em 6 de agosto, com prazo até 5 de outubro para que embarques feitos antes da medida cheguem ao destino sem o adicional de 40%.
“Se conseguirmos reverter rapidamente, o produtor não sentirá os efeitos. Mas, se a tarifa permanecer, os cafés brasileiros perderão competitividade e isso afetará preços internacionais e o consumo nos EUA”, avaliou.
Impacto ao consumidor final
Questionado sobre reflexos no preço do café para o consumidor brasileiro, Marcos Matos disse que, por enquanto, o cenário é positivo.
“No Brasil, o preço do café já caiu no varejo e no atacarejo, segundo dados da Abic. O consumidor vive um momento de valores mais adequados ao bolso. O nosso trabalho é garantir que o impacto da tarifa não gere inflação nem nos EUA nem aqui”, afirmou.
O diretor do Cecafé reforçou que o objetivo é minimizar os efeitos da medida e fortalecer o consumo interno e externo. “Eu tenho convicção de que a gente vai virar esse jogo e, em breve, teremos uma abordagem mais positiva sobre esse cenário”, concluiu.