Política é, acima de tudo, uma arte de gestos. E um gesto pode falar mais do que mil discursos. Foi exatamente isso que aconteceu em Contagem, quando a prefeita Marília Campos foi convidada a se retirar do lado do governador Romeu Zema durante visita às obras no município. O motivo? Abrir espaço para o material de campanha do governador, que já se movimenta como pré-candidato à Presidência da República.
A cena pode parecer detalhe, mas não é. Contagem não é um palco qualquer: é o município, e sua prefeita é a maior autoridade local. Exigir que ela se afastasse para que as câmeras captassem apenas Zema é mais do que deselegante, é uma afronta institucional. Afinal, o que vale mais para a democracia: o respeito ao cargo ou a estética da propaganda?
Marília reagiu como manda a liturgia de quem não aceita ser coadjuvante na própria casa: simplesmente se retirou e não participou da coletiva. Foi um silêncio eloquente, daqueles que ecoam mais forte do que palavras.
O episódio revela dois pontos centrais. Primeiro, a lógica de uma política cada vez mais encenada para as redes sociais, em que a realidade precisa se curvar ao enquadramento da campanha. Segundo, a dificuldade de muitos líderes em compreender que o respeito institucional não é favor, é obrigação.
Se Zema quer se vender como presidenciável, precisa entender que a liturgia não é inimiga da estratégia. Ao contrário, é a base da convivência republicana. Ao tratar uma prefeita eleita pelo povo de Contagem como figurante descartável, o governador não reforça sua imagem de líder nacional; fragiliza-a. Porque, no fim, quem não respeita a autoridade local dificilmente convencerá o país de que respeitará as instituições nacionais.
Em política, os gestos contam. E este gesto, em Contagem, foi de deselegância calculada, mas com efeito contrário ao desejado.
O governo do Estado foi procurado pela coluna, mas ainda não se manifestou sobre o caso.