O ministro Flávio Dino resolveu brincar de arquiteto da soberania. Com uma canetada, proclamou que as sanções estrangeiras não têm efeito automático no Brasil. No papel, soa bonito: “Aqui quem manda somos nós”. Na realidade, foi a construção de um castelo de areia, uma decisão que, em vez de fortalecer o país, ergue mais um muro de insegurança jurídica.
A ação envolvia indenizações do desastre de Mariana, mas Dino aproveitou a ocasião para erguer uma tese conveniente: a de blindar, de quebra, o colega Alexandre de Moraes das sanções da Lei Magnitsky, aplicadas pelos Estados Unidos. Coincidência? Só para quem ainda acredita em Papai Noel. O recado foi claro: a Suprema Corte, que deveria ser guardiã da Constituição, atua cada vez mais como síndico de condomínio de luxo, protege seus moradores e fecha os portões, deixando o povo do lado de fora.
O resultado imediato é uma tragicomédia. Os bancos, que já vivem em terreno minado, não sabem se seguem Washington e correm risco no Brasil, ou se obedecem Brasília e se complicam lá fora. O desfecho é previsível: retração, crédito mais caro, menos investimentos, economia patinando. No fim da linha, quem paga a conta é o cidadão comum, aquele que nem entrou na conversa.
O saldo da decisão é melancólico: o Brasil sai menor, mais arriscado e mais isolado. Flávio Dino tentou posar de herói nacional, mas terminou como o sujeito que, para provar independência, corta a luz da própria casa. Dentro do palácio, aplaudido. Lá fora, visto como quem prefere o escuro à transparência.
Soberania não se constrói com blindagens pessoais nem com discursos inflamados. Constrói-se com instituições sólidas, previsíveis e respeitadas. O STF insiste em um nacionalismo seletivo, que protege os seus e abandona o resto. No fim, os bancos voltaram à estaca zero, a economia mergulhou em incerteza, e o Brasil reforçou seu papel de figurante no palco das grandes democracias.