Até o início dos anos 2000, a cirurgia bariátrica era marcada por grandes incisões, internações longas e recuperação dolorosa. O cenário mudou radicalmente com a chegada da videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva que hoje representa a maior parte dos procedimentos no Brasil.
“A maioria dos pacientes que opera pela manhã já está em casa no dia seguinte. Em até 10 dias, muitos estão de volta ao trabalho”, aponta o cirurgião bariátrico e secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. René Berindoague.
Com pequenas incisões e o auxílio de câmeras, o método garante menos dor, cicatrizes discretas e menor risco de complicações. Segundo dados da SBCBM, mais de 90% das cirurgias já utilizam essa técnica.
Cirurgia robótica: a precisão do futuro
O próximo passo da evolução é a cirurgia robótica, cada vez mais presente nos centros especializados. Nela, o cirurgião comanda braços robóticos com visão tridimensional ampliada, o que garante precisão superior e menos chance de erro. “A robótica está cada vez mais presente e aumenta a segurança do procedimento”, coloca o Dr. René Berindoague.
De acordo com a SBCBM, embora o custo ainda seja alto, a tendência é que a tecnologia se torne mais acessível à medida que mais hospitais passem a adotá-la. Hoje, o Brasil tem pouco mais de 100 plataformas robóticas instaladas, mas a previsão é de crescimento rápido, principalmente nas capitais.

Impacto direto na expectativa de vida
Os avanços não são apenas técnicos. Eles se refletem diretamente na sobrevida dos pacientes. Estudos internacionais mostram que a cirurgia bariátrica pode reduzir em até 50% o risco de morte precoce entre obesos graves.
“Estudos mostram que pacientes que emagrecem com a cirurgia têm redução expressiva no risco de morte precoce, entre os 40 e 60 anos”, destaca o médico cirurgião geral e diretor da Clínica Cronos, Mauro Jácome.
Além de prolongar a vida, o procedimento reduz a necessidade de medicamentos, melhora a qualidade do sono e devolve ao paciente a capacidade de realizar atividades simples que antes eram limitadas pelo excesso de peso.
Novos medicamentos entram em cena
Mas nem só de bisturi vive a revolução da bariátrica. A última década trouxe também medicamentos inovadores, como as chamadas “canetas emagrecedoras” — análogos do GLP-1, originalmente usados no tratamento do diabetes, e que hoje são aliados poderosos contra a obesidade.
“Essas medicações podem reduzir de 15 a 20% do peso corporal. Em alguns casos, já permitem rever a necessidade da cirurgia”, observa Cláudia Leite, farmacêutica e bariatricada.
Para Cláudia, cirurgia e medicamentos não são excludentes. Pelo contrário: podem ser complementares, especialmente em pacientes com obesidade grave. A avaliação, no entanto, deve ser criteriosa e envolver uma equipe multidisciplinar, incluindo acompanhamento psicológico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o uso desses medicamentos pode reduzir significativamente complicações cardiovasculares, mas ainda enfrenta desafios de custo e acesso no Brasil.

O desafio de democratizar a tecnologia
Apesar dos avanços, o acesso desigual ainda é um problema. Enquanto hospitais privados oferecem recursos de ponta, como a robótica, o SUS realiza pouco mais de 6 mil cirurgias bariátricas por semestre, segundo o Datasus. Muitas delas ainda dependem de técnicas convencionais.
A SBCBM defende a ampliação da videolaparoscopia na rede pública como forma de reduzir custos a longo prazo. Cada cirurgia realizada significa economia futura em tratamentos caros de diabetes, hipertensão e problemas cardíacos.
Um futuro de integração
A bariátrica não é mais apenas cirurgia. Hoje, é um conjunto de possibilidades que incluem técnicas minimamente invasivas, tecnologia robótica, medicamentos modernos e acompanhamento multidisciplinar. O paciente tem cada vez mais opções — mas também mais responsabilidades.
“A tendência é que a tecnologia torne a bariátrica um tratamento mais precoce, e não o último recurso. Mas nunca será um milagre: é parte de um programa completo de cuidado do paciente”, aponta o Dr. René Berindoague.
Com 68% da população brasileira acima do peso, segundo o Atlas Mundial da Obesidade, a urgência é clara. A revolução tecnológica está ajudando a salvar vidas, mas ainda precisa ser democratizada para alcançar quem mais precisa.