O talk show Jimmy Kimmel Live! retorna nesta terça-feira (23/9) à grade da ABC, após quase uma semana suspenso. A decisão encerra um impasse que envolveu pressão política, acusações de censura e protestos dentro e fora da indústria do entretenimento. No entanto, nem todos os espectadores terão acesso à produção: a Sinclair Broadcast Group, uma das maiores redes de afiliadas dos Estados Unidos, anunciou que seguirá fora do ar e vai substituir o programa por jornalismo local.
A crise começou depois de um monólogo de Kimmel sobre as reações do movimento MAGA ao assassinato do ativista Charlie Kirk. O humorista afirmou que a ala trumpista tentava “marcar pontos políticos” ao negar vínculos do suspeito de 22 anos com o grupo. A fala gerou reação imediata: aliados do ex-presidente Donald Trump pressionaram a FCC, e grandes grupos como Sinclair e Nexstar sinalizaram que iriam cortar a transmissão. Horas depois, a própria ABC suspendeu a produção.
Na segunda (22), a Disney explicou a medida. “Na última quarta-feira, suspendemos o programa para evitar inflamar ainda mais um momento tenso. Após conversas com Jimmy, decidimos retomar a exibição”, disse a empresa em nota. O apresentador deve abordar a polêmica em seu monólogo de retorno.
O caso abriu um debate nacional sobre liberdade de expressão e interferência do governo em veículos de mídia. Mais de 400 artistas — entre eles Tom Hanks, Meryl Streep e Jennifer Aniston — assinaram uma carta organizada pela ACLU em apoio a Kimmel. Entidades como a PEN America classificaram a volta ao ar como uma vitória para a liberdade de imprensa.
Mesmo assim, o cenário segue dividido. Sinclair manterá o bloqueio a partir desta terça. A Nexstar, que também havia retirado o programa do ar, ainda não confirmou se retomará a transmissão.
Enquanto isso, democratas comemoraram a decisão da ABC. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que o retorno representa “uma vitória para a liberdade de expressão”. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou que a volta do programa “é sobre resistir aos abusos do governo Trump e defender a imprensa livre”.
Kimmel, que apresenta o Jimmy Kimmel Live! desde 2003 e emprega cerca de 200 pessoas, segue no centro de uma disputa que vai muito além da TV. Com a audiência da madrugada em queda e seu contrato prestes a expirar, a repercussão da crise pode definir não só o futuro do apresentador, mas também os rumos da relação entre mídia, política e liberdade de expressão nos Estados Unidos.