O presidente Lula abriu nesta terça-feira (23/9) os debates da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O discurso seguiu a tradição iniciada em 1955, de o Brasil ser o primeiro país a falar no plenário, e trouxe recados firmes sobre democracia, soberania, desigualdade e clima.
Veja os principais pontos:
Defesa da democracia e soberania nacional
Lula afirmou que o multilateralismo vive “uma encruzilhada” e que há “um paralelo evidente entre a crise internacional e o enfraquecimento da democracia”. Ele condenou sanções unilaterais, ingerências externas e ataques ao Judiciário brasileiro, destacando a condenação inédita de um ex-presidente por tentativa de golpe.
“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”
Combate à fome e desigualdade
O presidente comemorou a saída do Brasil do mapa da fome em 2025, mas lembrou que 670 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Defendeu a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada no G20, com apoio de 103 países. “A única guerra que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza.”
Regulação das plataformas digitais
Lula defendeu a responsabilização de plataformas pela disseminação de crimes e desinformação. “A internet não pode ser terra sem lei. Regular não é restringir a liberdade de expressão, é garantir que o que já é ilegal no mundo real seja também no mundo virtual.”
Ele destacou a nova lei brasileira de proteção a crianças e adolescentes no ambiente digital como uma das mais avançadas do mundo.
Paz na América Latina e no mundo
O presidente reforçou que a América Latina deve seguir como zona de paz, livre de armas de destruição em massa. Condenou intervenções militares externas e criticou a inclusão de Cuba em listas de terrorismo. Sobre a Venezuela e o Haiti, defendeu soluções por meio do diálogo.
Ucrânia
Lula afirmou que “não haverá solução militar” e elogiou iniciativas diplomáticas, como a proposta africana e o Grupo de Amigos da Paz, liderado por China e Brasil.
Palestina
O trecho mais duro foi direcionado à guerra em Gaza. “Os atentados terroristas do Hamas são indefensáveis, mas nada justifica o genocídio em curso em Gaza.” Ele acusou a comunidade internacional de cumplicidade e defendeu a criação do Estado Palestino, com reconhecimento pleno na ONU.
Clima e COP30
Lula anunciou que a Conferência do Clima de Belém será “a COP da verdade” e cobrou mais ambição dos países ricos. Disse que o Brasil reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia nos últimos dois anos e lançará o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. “Não é caridade, é justiça: quem poluiu mais deve pagar mais.”
Reforma da ONU e do comércio global
O presidente defendeu a ampliação do Conselho de Segurança e a criação de um conselho específico para monitorar compromissos climáticos. Também pediu a refundação da Organização Mundial do Comércio em bases modernas e flexíveis.
Homenagem a Mujica e Papa Francisco
Lula encerrou lembrando a morte de Pepe Mujica e do Papa Francisco em 2025, exaltando seus legados humanistas. “O amanhã é feito de escolhas diárias, e é preciso coragem para transformá-lo.”