No Visão Macro de hoje, vamos analisar a revisão do hiato do produto apresentada pelo Banco Central em seu último Relatório de Política Monetária — que substitui o antigo Relatório Trimestral de Inflação. Esse novo formato traz muito mais fontes de informação e elementos de análise do que apenas o comunicado e a ata do Copom.
O ponto central é a decisão do Banco Central de não reduzir a projeção de 2027 para o IPCA cheio, que permanece em 3,4%, mesmo após a revisão do hiato do produto para 0,7%, acima dos 0,5% estimados anteriormente.
O que isso revela? Temos hoje um gap positivo entre o crescimento potencial e o que de fato está sendo entregue pela economia. Em outras palavras: crescemos abaixo da capacidade ideal, mas sem os investimentos de longo prazo necessários em formação bruta de capital fixo, esse espaço acaba pressionando a inflação. Qualquer aumento de renda tende a se transformar rapidamente em mais demanda, e sem expansão da oferta, o resultado inevitável é pressão inflacionária.
Outro dado relevante é a revisão do PIB para 2026, que caiu para 1,5%, abaixo da expectativa de mercado, que projeta 1,8%. Essa diferença reforça a percepção de um hiato mais aberto, em que estímulos de renda acabam sendo absorvidos pela inflação em vez de gerarem crescimento sustentável.
Vale observar ainda que esse hiato só deve se reduzir de forma mais consistente a partir de 2027. Até lá, a economia brasileira seguirá convivendo com um quadro de pressão inflacionária estrutural, em especial no próximo ano, que será eleitoral.