A nomeação de Guilherme Boulos para o cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República é vista por analistas como uma jogada estratégica de Lula. Para o cientista político Rodrigo Lopes, a escolha tem metas bem definidas: fortalecer a imagem do governo junto às periferias urbanas e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para uma possível sucessão política.
Segundo Lopes, a mudança na pasta ocorre em momento de aumento da popularidade de Lula, o que favorece uma reaproximação com a população das periferias. Boulos chega à Secretaria-Geral justamente para cumprir a função de elo entre o Planalto e as demandas sociais das grandes cidades.
“O governo tenta aproveitar essa leve melhora nas estatísticas e buscar um esforço para se conectar novamente com as periferias. E foi identificado na figura do então deputado federal Guilherme Boulos essa peça, esse elo que permite estabelecer uma ponte entre o governo e aquilo que existe de maior clamor nas periferias, relacionado à segurança, à moradia, à infraestrutura e a outros pontos que fazem sentido e estão conectados à biografia dele”, apontou o cientista político.
Lopes destaca que a trajetória de Boulos, marcada pela militância no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o credencia para a missão. No entanto, a tarefa não será um desafio fácil. “A periferia não é uma voz uníssona. Há muitas críticas até dentro das próprias comunidades urbanas à biografia do Boulos. Então, conciliar esse desejo de conexão com uma prática efetiva vai ser o grande desafio”, observou.
Para o cientista político, a nomeação deve ser analisado também sob uma perspectiva de longo prazo. A escolha, segundo ele, pode sinalizar o início de um movimento sucessório dentro do grupo político de Lula. “Que é uma crítica recorrente ao governo e ao PT, que enfrentam dificuldade de enxergar quem vai suceder essa geração política”, explicou.
Assim, a chegada de Boulos à pasta é interpretada como um gesto político duplo. “No curto prazo, é um movimento ousado de reconexão com as bases populares, que para o governo é fundamental. No longo prazo, é também um passo para formar novas lideranças e construir uma linha de continuidade política para o projeto lulista”, concluiu Lopes.