A pesquisa Genial/Quaest, realizada entre os dias 6 e 9 de novembro de 2025 e divulgada hoje, trouxe um alerta claro ao governo Lula: a curva da aprovação, que vinha em lenta recuperação, estacionou, e até começou a descer.
Segundo o levantamento, 47% dos brasileiros aprovam o governo, enquanto 50% o desaprovam. Um empate técnico, dentro da margem de erro de dois pontos, mas com peso simbólico enorme. Depois de meses de indicadores econômicos melhores, o que paralisou a recuperação da imagem do presidente não foi o PIB, nem a inflação. Foi o medo.
A segurança pública voltou a ocupar o centro da agenda nacional, superando a economia como principal preocupação dos brasileiros. De acordo com a Quaest, 38% apontam a violência como o maior problema do país, contra 15% que citam a economia. É um dado que muda a lógica da conversa política, e que mostra como a emoção, mais do que os indicadores, governa o humor social.
O Brasil com medo de si mesmo
O dado mais revelador da pesquisa não está nas curvas da popularidade, mas no sentimento coletivo. O país voltou a ter medo, e, quando o medo se instala, a política muda de forma.
A pesquisa mostra um apoio maciço a medidas duras na segurança:
- 88% dos brasileiros querem penas mais severas para o crime organizado;
- 73% defendem classificar facções criminosas como organizações terroristas;
- 65% apoiam restringir visitas íntimas em presídios;
- 67% aprovam a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio.
É o retrato de uma sociedade que, acuada, começa a relativizar o debate sobre direitos humanos e passa a exigir resultados imediatos. O brasileiro médio que acorda cedo, pega ônibus, vive entre o susto e o salário, já não quer mais explicações. Quer segurança.
E é justamente aí que o governo Lula tropeça.
O Planalto vinha surfando uma marola de bons ventos: inflação sob controle, juros em queda, melhora no mercado de trabalho e uma narrativa de estabilidade fiscal. Mas quando a pauta muda de “quanto sobra no fim do mês” para “será que eu volto pra casa hoje?”, todos os números do boletim macroeconômico perdem relevância.
Entre os beneficiários do Bolsa Família, tradicional bastião lulista, a aprovação caiu de 67% para 65%. Entre os eleitores independentes, aqueles que decidem eleição, a queda foi mais acentuada: aprovação de 46% para 43%, desaprovação subindo de 48% para 52%.
Lula perde terreno, não por desconfiança econômica, mas por falta de ação em torno da segurança. O eleitor entende o presidente como alguém que discursa dizendo que cuida do social, não como quem enfrenta o crime, e esse estigma tem custo político alto num país onde o medo ocupa o noticiário.
A segurança é, historicamente, um terreno difícil para governos de esquerda. Não por incapacidade técnica, mas porque o tema costuma ser dominado por uma linguagem simbólica, a do enfrentamento, da força, da repressão, que a esquerda tradicionalmente evita e não tem capacidade de enfrentá-lo, e que a direita costuma dominar com discursos políticos simples e certeiros.
Quando o governo tenta disputar essa narrativa, corre o risco de desagradar a todos: os progressistas o acusam de trair princípios, e os conservadores o veem como “fraco demais para agir”.
É uma encruzilhada política.
Lula em seu discurso patina, num momento reconhece a gravidade da violência, noutro critica os excessos das operações policiais. O problema é que o eleitor, nesse momento, quer “ação”, não ponderação. Quer ver helicóptero sobrevoando morro, não coletiva de imprensa.
É um dilema entre o ético e o eficaz, entre o discurso e o instinto. E o governo parece ter subestimado o quanto o medo pode redefinir prioridades.
Em Minas, essa virada de percepção tem reflexos diretos. O aumento da criminalidade nas regiões metropolitanas e nas rodovias já afeta o turismo, o transporte de cargas e até o agronegócio. Pequenos produtores e comerciantes gastam mais com segurança, câmeras, vigilância e seguros, um custo invisível que corrói a margem de lucro e trava o crescimento.
O medo, quando entra na economia, muda a natureza do investimento. Empresários adiam planos, turistas cancelam viagens, consumidores evitam sair à noite. E cada gesto individual de autoproteção vira um entrave coletivo para o desenvolvimento.
Do ponto de vista fiscal, a consequência é evidente: mais gastos com segurança pública, menos capacidade de investimento em infraestrutura, saúde e educação. É o ciclo vicioso da insegurança: o crime gera medo; o medo gera gasto; o gasto gera desequilíbrio, e o desequilíbrio alimenta o próprio crime.
A pesquisa Quaest não é apenas uma fotografia de popularidade. É um termômetro de um país em tensão, onde a agenda pública se move ao sabor das emoções mais primitivas: medo, raiva, desconfiança.
O Brasil pede mais do que programas sociais, pede proteção.
Um país à procura de equilíbrio
A lição é simples e dura: a política que ignora o medo popular perde o fio da narrativa. Não adianta ter contas em ordem se o cidadão sente que a vida está fora de controle.
A recuperação da imagem de Lula, portanto, não depende apenas de crescimento econômico, mas de credibilidade na segurança, e essa talvez seja a agenda mais complexa de todas. Entre direitos e segurança, há um meio-termo possível. Mas é preciso coragem para enfrentá-lo com seriedade, sem slogans e sem medo de parecer firme.
A pesquisa Quaest é um lembrete, o Brasil quer paz antes de querer prosperidade, e, um país que sente medo não vota com a cabeça, vota com o coração apertado.
