A OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou nesta semana suas primeiras diretrizes globais sobre o uso de medicamentos para obesidade, colocando as famosas “canetas emagrecedoras” no centro do debate mundial. Mas, para além dos documentos técnicos de Genebra, como essas regras se aplicam na vida real de quem luta contra a balança?
Para traduzir o “tecniquês” da OMS, conversamos com o médico especialista em emagrecimento Getúlio Santos. Referência em Belo Horizonte e fenômeno no TikTok, onde acumula mais de 220 mil seguidores com o slogan “Emagrecer é apertar o parafuso certo”, o especialista analisou os pontos polêmicos do documento sem rodeios.
Do uso estético à dúvida sobre tomar o remédio para sempre, entenda o que é mito e o que é verdade.
Quem pode usar? (E a polêmica da estética)
A OMS foi rígida em seu documento: as canetas (análogos de GLP-1) devem ser priorizadas para tratar a obesidade como doença crônica. Tecnicamente, a indicação oficial é para quem tem IMC acima de 30 (obesidade) ou IMC acima de 27 (sobrepeso) quando associado a doenças como diabetes ou hipertensão.
Mas o que isso significa na prática?
Para você visualizar: imagine uma pessoa com 1,70m de altura.
- Para ela se enquadrar no critério clássico de obesidade (IMC 30) e ser elegível segundo a regra geral, ela precisaria pesar 87kg.
- Já para entrar no critério de sobrepeso com comorbidades (IMC 27), essa mesma pessoa pesaria cerca de 78kg.
Qualquer uso abaixo desses parâmetros é considerado “estético” ou off-label (fora da bula) pelas diretrizes globais.
Porém, o médico Getúlio pede serenidade na discussão. Para ele, não há motivo para “pânico moral” em relação ao uso para pessoas com sobrepeso, desde que feito com responsabilidade médica.
Ele compara a medicação a outros procedimentos populares: “Quando comparadas a procedimentos invasivos, como cirurgias plásticas, as canetas são menos agressivas, reversíveis e controláveis.”

O perigo mora na automedicação. O médico alerta que o problema não é a estética, mas usar um remédio potente sem receita. Quem faz isso corre riscos sérios, como:
- Náuseas e vômitos incontroláveis;
- Desidratação severa;
- Perda excessiva de massa muscular;
- Deficiências nutricionais graves.
O remédio faz milagre?
Muitos pacientes chegam ao consultório esperando que a caneta resolva tudo sozinha. Getúlio, no entanto, é categórico: o “milagre” não existe. O medicamento melhora a saúde protegendo coração, rins e pâncreas, mas não substitui o básico. Para o tratamento funcionar, o paciente precisa garantir quatro pilares que a injeção não resolve:
- Alimentação equilibrada;
- Atividade física regular;
- Sono de qualidade;
- Controle emocional.
“Não é falta de força de vontade. Se o tratamento for interrompido sem mudança de estilo de vida, o corpo tende a retornar ao peso anterior naturalmente”, explica.
Vou ter que tomar para sempre?
Essa é a dúvida de ouro. Como a OMS classificou a obesidade como doença crônica, muitos temem ficar “dependentes” da caneta emagrecedora. O especialista explica que existem dois caminhos, dependendo do perfil do paciente.
Para uso estético ou sobrepeso leve: É possível criar um protocolo com início, meio e fim. Aqui, a caneta é uma ferramenta temporária para ajudar na reeducação metabólica.
Para obesidade estabelecida: O tratamento tende a ser de longo prazo ou crônico, assim como tratamos hipertensão ou diabetes. “A suspensão abrupta geralmente leva ao reganho de peso. O objetivo é controlar a doença e manter a qualidade de vida”, detalha Santos.
A matemática do peso: esqueça a pressa
Com a popularização do Ozempic e similares, tornou-se comum ver pessoas na internet comemorando perdas de 10kg em um mês. Isso cria uma pressão perigosa.
O médico Getúlio alerta que não existe uma fórmula fixa. Fatores como genética, hormônios e estresse fazem cada corpo reagir de um jeito. E mais: perder peso rápido demais pode ser uma armadilha.
Por que fugir do emagrecimento relâmpago?
- Aumenta a flacidez;
- Gera desequilíbrios hormonais;
- Facilita o reganho de peso (efeito sanfona).
“O ideal é encontrar um ritmo sustentável. Mais importante do que o número na balança é a melhora da composição corporal e da saúde metabólica”, finaliza.
