O Brasil parou na noite deste domingo (2/3) para acompanhar a premiação do Oscar. E valeu a torcida brasileira: “Ainda Estou Aqui” se sagrou o primeiro filme brasileiro a trazer a estatueta para nosso país. Contudo, há 65 anos, um filme feito no Brasil foi eleito o melhor filme estrangeiro, mas o título foi para outro país. O mais curioso é que a obra reúne esporte e Carnaval.
“Orfeu Negro” (1959) é uma coprodução franco-brasileira, dirigida por Marcel Camus, com roteiro adaptado por Camus e Jacques Viot, baseado na peça teatral “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes.
O filme foi um grande sucesso e conquistou a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1959, além do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960. No entanto, os dois prêmios foram para a França, mesmo com a história sendo em português e ambientada no Brasil.
O Carnaval é o eixo central da trama, mas o futebol também tem papel importante na trajetória do protagonista Breno Mello. Gaúcho de Porto Alegre, ele era jogador de futebol e campeão pelo histórico time Renner, vencedor do Campeonato Gaúcho de 1954. O jogador passou pelo Corinthians e, em 1958, enquanto atuava pelo Fluminense, conheceu Marcel Camus na praia. O diretor viu em Breno o tipo físico ideal para o papel principal do filme.
O então jogador profissional decidiu tentar a carreira de ator e superou mais de 300 concorrentes para protagonizar o longa, apesar das dificuldades com a atuação, especialmente para decorar as falas.
Breno ainda jogou pelo Santos e participou de outros seis filmes, mas nunca repetiu o sucesso de “Orfeu Negro”. Morreu em 2008, após viver discretamente no Rio Grande do Sul, onde ainda era lembrado por seus feitos no Renner.
Outra figura do esporte
Não era só Breno que tinha ligação com o esporte em “Orfeu Negro”. O elenco também contava com uma lenda do atletismo brasileiro: Adhemar Ferreira da Silva. O bicampeão olímpico , primeiro atleta do Brasil a conquistar dois ouros olímpicos, recordista mundial do salto triplo por cinco vezes e o primeiro a ultrapassar a marca dos 16 metros. Adhemar fez uma participação especial no longa, interpretando a figura da Morte. Foi sua única incursão no cinema.
A história de “Orfeu Negro“
Internacionalmente conhecido como “Black Orpheus”, o filme passou a ser chamado no Brasil de “Orfeu Negro” com o passar dos anos. A trama é ambientada em uma favela carioca e ajudou a popularizar a Bossa Nova nos Estados Unidos durante a década de 1960.
Por que a estatueta não é brasileira?
Devido à coprodução franco-ítalo-brasileira liderada por Sacha Gordine, produtor francês nascido na Rússia, e à direção do francês Marcel Camus, o Oscar de “Orfeu Negro” pertence oficialmente à França, e não ao Brasil.
Trilha sonora de peso
A trilha sonora de “Orfeu Negro” foi assinada por Antônio Carlos Jobim e Luiz Bonfá, com músicas que se tornaram clássicos da Bossa Nova, como “A Felicidade” e “Manhã de Carnaval”. As composições contribuíram significativamente para a popularização da música brasileira no exterior.
Crítica do filme
Quando foi lançado, a crítica especializada se dividiu. “Quando eu vi o filme do Camus, que achei um horror, uma traição à peça e à realidade brasileira – não tinha nada a ver com a favela carioca – disse para mim mesmo: ‘Um dia, vou ter que refazer esse filme para fazer justiça à peça’”, declarou Cacá Diegues no documentário “Mito Negro, Orfeu Brasileiro” (2011). Cacá, um dos grandes nomes do Cinema Novo, faleceu no último dia 14 de fevereiro, aos 84 anos.
Sinopse de “Orfeu Negro“
No Carnaval, Orfeu (Breno Mello), condutor de bonde e sambista do morro, se apaixona por Eurídice (Marpessa Dawn), uma jovem do interior que foge para o Rio de Janeiro assombrada por um estranho fantasiado de Morte (Adhemar Ferreira da Silva). O amor entre Orfeu e Eurídice desperta a fúria da ex-noiva do protagonista, Mira (Lourdes de Oliveira), enquanto a Morte os observa de perto.