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A verdadeira história do jogo em que Ronaldo Fenômeno sofreu com um zagueiro no Campeonato Mineiro

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Jogo marcante de Ronaldo aos 17 anos é relembrado com detalhes (Foto: Valdir Cezário/Jornal dos Lagos)

Ronaldo Fenômeno é um dos jogadores mais importantes da história do futebol. Campeão do mundo com a camisa 9 da Seleção Brasileira e colecionador de títulos com as camisas de Real Madrid, Inter de Milão, Milan, Barcelona e PSV, o atacante disputou partidas por todo o planeta. Mas uma, em especial, com a camisa do Cruzeiro — clube no qual foi revelado —, marcou sua trajetória.

Em entrevista ao Charla Podcast, Fenômeno contou uma passagem de sua carreira, ainda no início, sobre uma partida pelo Campeonato Mineiro. Ele revelou que, antes do jogo, prometeu que faria três gols. No entanto, um zagueiro da equipe adversária — segundo a memória de Ronaldo, a Caldense — não gostou da fala do atacante e o “presenteou” com três socos na boca, causando um corte. Mesmo assim, Ronaldo explicou que cumpriu a promessa e marcou os três gols. E ainda completou: “Seria legal se esse zagueiro aparecesse”.

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A reportagem da Rede 98 decidiu ir atrás da história para conversar com o defensor e entender os detalhes desse jogo marcante na carreira do ex-jogador do Cruzeiro. Pois bem: Ronaldo se confundiu — tanto em relação ao time que enfrentou, quanto ao número de agressões sofridas, e também aos gols prometidos. O que é compreensível, já que, na época, tinha apenas 17 anos e estava começando sua carreira no futebol.

A verdadeira história

A partida citada por Ronaldo não foi contra a Caldense, mas sim contra o Alfenense, equipe de Alfenas, cidade do Sul de Minas. O jogo foi disputado no Estádio Francisco Leite Vilela, em 25 de fevereiro de 1994. Ronaldo não tomou três socos e também prometeu “apenas” dois gols.

O defensor citado por Ronaldo como autor da agressão é Luiz Carlos, um dos ídolos do Alfenense, conhecido como Bahia na cidade do sul de Minas. Ronaldo Fenômeno até sugeriu reencontrar o “seu algoz”, mas isso já não será mais possível. Infelizmente, o ex-zagueiro faleceu em setembro de 2023, vítima de um câncer.

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Jornal dos Lagos do dia seguinte à partida entre Alfenense 0 x 3 Cruzeiro, em que Ronaldo marcou dois gols (Foto: Jornal dos Lagos/Alfenas)

A tentativa de evitar os gols do craque

Com a morte de Bahia, a reportagem da Rede 98 procurou outros personagens para contar a história daquele jogo. Nada melhor do que conversar com os companheiros de defesa de Luiz Carlos. O primeiro é o ex-goleiro do Alfenense, que levou os três gols da partida vencida pelo Cruzeiro, dois deles marcados por Ronaldo. O camisa 1 do Verdão de Alfenas era Ernane Virgilio — atleta que integrou o elenco profissional do Atlético em 1992 e foi emprestado ao Alfenense no mesmo ano, quando o Alfenense conquistou o acesso à Segunda Divisão do Campeonato Mineiro. O defensor também foi o goleiro da equipe no acesso à Primeira Divisão do Estadual, em 1993.

Natural de Guanhães, cidade a cerca de 248 quilômetros de Belo Horizonte, Ernane hoje é dentista em Franca, interior de São Paulo. Ele lembra que viu a entrevista em que o então garoto Ronaldo dizia, antes da partida, que faria dois gols no Alfenense. O goleiro conta que guardou as palavras e prometeu a si mesmo que não sofreria gols do futuro craque mundial.

“Só dava Cruzeiro. Eles fizeram meio-campo contra a gente. Eu peguei bola até pelo rabo, peguei bola de um monte de chutes. Aí, uma hora, você cansa. Não tem como. Teve um lance, uma tabela, sobrou na cara do gol. O cara chutou, eu defendi, e o Roberto Gaúcho fez o gol. Um a zero para o Cruzeiro”, completou o ex-jogador.

Ernane lembra que Ronaldo estava endiabrado na partida e tentava, de todas as formas, cumprir a promessa feita. Não demorou até o atacante marcar seu primeiro gol. “O Ronaldo saiu costurando os nossos zagueiros e deu uma chapada no meu canto direito, que eu só olhei a bola. Eu não estava vendo ela, não tinha como pular. Ela foi no cantinho, rente à trave. Dois a zero para eles”, disse.

Goleiro Ernane, em um registro de sua época como atleta (Foto: Acervo Pessoal / Ernane)

Como marcar um fenômeno?

Outro personagem dessa história é Wilson José, mais conhecido como Baiano, natural de Itabuna, Bahia, onde foi revelado pelo time da cidade que leva o mesmo nome do município. Passou por equipes como Goiás, Paraná, Vitória, além de times do interior mineiro, como Uberlândia, Pouso Alegre e Alfenense — onde se torna personagem da nossa história.

Wilson era lateral-direito daquela equipe que enfrentou Ronaldo Fenômeno em 1994. O ex-jogador, que hoje mora em Alfenas, recorda detalhes que antecederam aquela partida: “Vimos a entrevista do Ronaldo. Muito atrevido para um moleque de 17 anos falar que vai fazer dois gols na gente, assim. Comentamos entre nós jogadores, que ele era um cara muito talentoso, um craque, e que estava cheio de confiança, e a gente precisava dar um jeito de parar ele”, completou.

O ex-jogador também revelou os planos dos defensores do Alfenense da época, para tentar evitar que Ronaldo cumprisse a sua promessa de marcar: “Estávamos acompanhando o desempenho dele durante o Campeonato Mineiro. Ele estava arrebentando, e montamos uma estratégia para pará-lo. Como ele era rápido, combinamos entre a gente — em especial o Luiz Carlos, o Bahia — para ele chegar firme no Ronaldo, não dar espaço”, explicou Wilson, que ainda completou: “Eu só não imaginava que o Bahia iria dar tanta ‘porrada’. Ele não aliviou em nada para o Ronaldo, e ele fez o que fez: dois gols.”

Wilson José, conhecido como Baiano, lateral-direito do Alfenense, na partida contra o Cruzeiro, com a camisa do Uberlândia — uma das equipes que o jogador defendeu (Foto: Arquivo pessoal / Wilson José)

O lance que marcou Ronaldo

Ernane, o camisa 1 do Alfenense, recorda com detalhes o lance entre Luiz Carlos Bahia e Ronaldo, ainda no primeiro tempo da partida. “Depois do dois a zero, teve um lance na linha do meio de campo, quase na lateral. Não sei o que o Ronaldo falou, mas o Bahia pegou ele. Pegou na porrada, um soco na boca. Foi uma só, que valeu por dez”, brincou Ernane.

Ele ainda comenta como era o futebol nos anos 1990: “Naquela época, chegava embaixo, em cima e no meio para dar pancada. O cara já tinha as manhas. Hoje, com VAR, na primeira é expulso. Então, os caras já estavam preparados para pegar sem o árbitro perceber. No lance, o Bahia acertou o Ronaldo. Como ele usava aparelho, qualquer coisa que encostava, cortava. No lance, o Bahia nem tomou cartão. Tem noção? Só vi o ‘melado’ (sangue) descer”, relatou.

O ex-goleiro ainda recordou as falas de Bahia para Ronaldo após o lance. “O Ronaldo ficou lá, e o Bahia ainda falou pra ele: ‘Não vem fazer graça aqui. Falou que vai fazer dois gols. Aqui não, moleque.’ Ele falou mesmo”, relembra o goleiro, que também passou por Pouso Alegre e outros clubes dos interiores mineiro e paulista.

O ex-lateral-direito Wilson elogiou a postura de Ronaldo Fenômeno após o lance no qual Ernane descreveu: “Mesmo com as porradas, o Ronaldo não pipocou. Ele era pirracento. Eu nunca tinha visto um atacante desse jeito. Ele não fugiu em nenhuma oportunidade. Corajoso”, disse.

Ronaldo, com a camisa do Cruzeiro, disputou 58 jogos — 55 como titular — e marcou 56 gols (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

Na história

Ernane encerrou a carreira aos 32 anos. O ex-goleiro do Alfenense relembra com carinho essa partida e se diz honrado por ter levado dois gols de Ronaldo. “Eu falo para todo mundo que tive o privilégio de tomar dois gols dele. Depois, vi o cara que ele virou. Para a história, para a cidade, é um negócio muito importante. Todo mundo lembra. Ele falou que ia fazer três gols, que tomou três porradas… Mas o cara jogou em tanto lugar, meu, que, se você conseguir lembrar tudo que ele fez na vida, eu tiro o chapéu para ele”, completou.

Ernane ainda brinca com a pequena confusão de Ronaldo na história que contou ao podcast: “Ele sabe que jogou no Sul de Minas. Tudo verde. Tudo terminando em ‘ense’, não sei o quê lá. Mas ele tomou uma porrada também. O Bahia que deu. Já faleceu, amigão nosso. Ele falou mesmo que ia fazer dois gols. Até fez os dois. Então, fiquei com isso na cabeça. Mas valeu demais a história. Se não fosse isso, vocês não estariam conversando comigo hoje”, finalizou.

Carreira de Luiz Carlos Bahia, o “algoz” de Ronaldo

Luiz Carlos, o Bahia, foi zagueiro do Alfenense na década de 1990. O defensor também atuou por América de Rio Preto, Sergipe, Uberlândia e Esportiva de Passos.

Amigo de Luiz Carlos, Wilson relembra que o ex-jogador, já falecido, sempre recordava daquele lance com o Ronaldo. “O Luiz Carlos Bahia sempre lembrava dessa passagem, desse jogo especificamente, principalmente por ter jogado contra o Ronaldo e feito o atacante de classe mundial ‘sofrer’”. E completou que ainda lembra com carinho do amigo: “O Bahia era uma pessoa muito boa, um caráter irrefutável. Fiquei muito triste com a sua morte.”

Luiz Carlos Bahia com a camisa do Alfenense (Foto: Reprodução / Redes sociais)

Alfenense no anonimato

A última vez que o Alfenense disputou uma competição foi em 2002, quando o Verdão de Alfenas foi vice-campeão da Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, equivalente à terceira divisão do torneio estadual. De lá para cá, o time do Sul de Minas segue jogando campeonatos amadores da região.

Equipe do Alfenense de 1999, momentos antes de partida válida pela Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, equivalente à terceira divisão do torneio estadual. Detalhe para o goleiro Ernane, o segundo em pé, da direita para a esquerda. O jogador retornou ao clube para a disputa do estadual no final da década de 1990 (Foto: Valdir Cezário/Jornal dos Lagos)

Sobre a ausência do clube no cenário mineiro, Wilson faz um desabafo: “Escolhi Alfenas como meu lar. Moro aqui há mais de 15 anos. É uma cidade fanática por futebol. Eu fico muito triste em ver o cenário no qual o Alfenense se encontra hoje. A cidade respira futebol e merece muito ter um clube na elite do futebol mineiro”, finalizou.

Alfenense perfilado para encarar o Atlético, em Alfenas, pelo Campeonato Mineiro de 1980. A partida terminou com vitória do Verdão por 1 x 0 (Foto: Arquivo/Jornal dos Lagos)

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Jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Durante dois anos, foi produtor e redator do programa 98 Esportes, até migrar, em 2024, para a equipe digital da emissora. Hoje, dedica-se à cobertura do futebol brasileiro e internacional, fazendo do jornalismo esportivo sua grande paixão.

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