Nesta segunda-feira (10/03), o Galo confirmou a venda do atacante Alisson ao Shakhtar, da Ucrânia. O jogador, que se tornou a terceira maior venda da história do clube, chega ao país do Leste Europeu para reencontrar um ex-companheiro de Galo e conviver com um dos maiores conflitos armados deste século.
Alisson foi negociado pelo Atlético por cerca de R$ 69 milhões, referentes a 80% dos direitos econômicos do jogador. O valor recebido pelo clube pode aumentar caso o atacante atinja algumas metas.
A saída de Alisson se soma no pódio das maiores vendas da história do clube. Antes, estão as vendas de Paulinho, repassado ao Palmeiras no início da temporada por aproximadamente 18 milhões de euros (R$ 88 milhões na época), e de Bernard, negociado com o próprio Shakhtar em 2013 por cerca de 25 milhões de euros (R$ 76 milhões na cotação da época). Atualizado para os valores de hoje, esse montante equivaleria a R$ 157 milhões.
O atacante de 19 anos, porém, chega ao clube ucraniano em um cenário pouco favorável. A guerra entre o país e a Rússia já dura mais de dois anos, sem previsão de um desfecho. O futebol não passa ileso ao conflito armado. No Shakhtar, Alisson reencontra Pedrinho, meia brasileiro que chegou ao Atlético em 2022, emprestado pelo clube ucraniano. O vínculo, inicialmente válido até metade de 2023, foi prorrogado até o fim do primeiro semestre do ano passado.
Em entrevista à revista “Placar”, Pedrinho falou sobre a rotina no clube diante da guerra. “Dependendo do lugar, a gente sente as tensões. Algumas vezes, até a sirene toca. Sobre destroços, poucas vezes passamos por cenários assim, mas a gente sempre fica em alerta”, completa o ex-jogador do Atlético.
Mudança de casa
O Shakhtar Donetsk era sediado na cidade de Donetsk, no leste da Ucrânia, mas com a invasão russa em 2014 e a anexação da Crimeia (A Crimeia é uma região localizada na Europa Oriental, entre a Ucrânia e a Rússia, nas proximidades dos mares Negro e Avov) pelo governo de Vladimir Putin, diversos protestos estouraram na região, forçando o clube a deixar sua cidade natal.
Atualmente, o Shakhtar está sediado em Lviv, a maior cidade da Ucrânia na região oeste do país. A equipe foi a única representante ucraniana na Liga dos Campeões desta temporada, mas acabou eliminada na fase de liga. Sem poder atuar dentro da Ucrânia devido à guerra, o clube escolheu Gelsenkirchen, na Alemanha, como sede para seus jogos na competição, mandando suas partidas na Veltins-Arena.
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Para jogar em “casa”, a equipe precisa enfrentar longas viagens de ônibus, já que o espaço aéreo da Ucrânia está fechado por conta do conflito. “Não é a quantidade de viagens, mas sim o tempo que passamos nelas. São cerca de oito horas de ônibus, mais três de avião, e o mesmo para voltar. Dentro da Ucrânia, há deslocamentos de até 13 ou 14 horas de ônibus. As locomoções são o mais complicado”, disse Pedrinho.
Legião de brasileiros
Com a chegada de Alisson, o Shakhtar passa a contar com oito jogadores brasileiros: Pedro Henrique, Vinicius Tobias, Newerton, Pedrinho, Marlon Gomes, Eguinaldo, Kevin e agora Alisson. Todos moram em Lviv, enquanto seus familiares permanecem no Brasil.
Marlon Gomes e Pedrinho destacam que disputar a Liga dos Campeões tem sido um escape diante das tensões vividas no país, durante este período de guerra: “É nossa maior felicidade, porque viajamos para outro país e podemos encontrar alguns familiares. Tentamos nos ajudar ao máximo. Nosso maior psicólogo somos nós mesmos. Um ajuda o outro, levanta quando precisa, brinca e se diverte na medida do possível.”
Relatos sobre o conflito
O volante Marlon Gomes, ex-Vasco, falou sobre sua decisão de assinar com o Shakhtar, mesmo diante do contexto de guerra. “Foi uma decisão muito difícil. Perguntei como estava a situação e disseram que estava mais tranquila, que ficaríamos perto da Polônia. Resolvi vir pelo projeto do clube e pela oportunidade de disputar a Champions, que era um sonho para mim”, disse Marlon, que também relatou momentos marcantes vividos na Ucrânia: “O jogo contra o Dnipro foi muito impactante para mim. A sirene não parava de tocar, de cinco em cinco minutos. O jogo recomeçava, sirene, parava, bunker. E teve uma vez em casa em que escutei uma bomba. No dia seguinte, soube que caiu a uns 20 km do meu apartamento.”