Apesar do cenário global de instabilidade, a imigração legal para os Estados Unidos segue em alta — e, segundo especialistas, mais acessível do que o imaginário popular costuma supor. Em 2023, mais de 40 mil brasileiros obtiveram o Green Card ou a cidadania americana. O crescimento é puxado, sobretudo, por profissionais qualificados.
Em entrevista à 98 News nesta quarta-feira (30/7), o advogado Vinicius Bicalho, especialista em direito migratório, explicou os principais caminhos para quem deseja viver legalmente nos EUA e detalhou mudanças no perfil dos imigrantes brasileiros nos últimos anos.
‘Os EUA querem as boas mentes’
Segundo Bicalho, a tendência é de alta há mais de uma década. “Desde 2013, nós temos ano após ano um crescimento significativo, fazendo com que mais brasileiros venham para a América. Nós tivemos uma única exceção, que foi o ano da pandemia, por razões óbvias com o fechamento do consulado.”
Ele afirma que os Estados Unidos têm interesse em atrair talentos. “Existe aqui na América um sentimento onde o país quer ter as boas mentes, os bons profissionais dentro do seu território. Portanto, profissionais que são qualificados, que têm uma história sólida no Brasil e desejam vir para o país para somar, têm as portas abertas nos Estados Unidos.”
Trajetória sólida vale mais que diploma
Entre os 187 tipos de vistos existentes, Bicalho destaca os vistos de habilidades profissionais, destinados a quem comprova ter trajetória sólida em determinada área. “Esse visto abrange desde médicos, engenheiros, advogados, dentistas, contadores que comprovam que têm formação e experiência dentro da sua área, até mesmo empreendedores que sequer concluíram a formação escolar, mas que tiveram sucesso. O governo americano aceita evidências desde que você comprove, de fato, que é capaz de vir para somar e não subtrair.”
Novo perfil: famílias bem-sucedidas
Bicalho explica que o perfil do imigrante brasileiro mudou. “Se antes era aquele profissional que não teve sucesso no Brasil e entendia que a América poderia ser a salvação para o seu futuro, hoje não é mais esse perfil. O perfil são profissionais bem-sucedidos, normalmente famílias que estão preocupadas, sobretudo, com a violência no Brasil e com as perspectivas, e resolvem escrever um novo capítulo da sua vida na América.”
Taxas mais altas e fiscalização rigorosa
Com o aumento das tarifas migratórias e a criação da Visa Integrity Fee, a pergunta que surge é se o custo tem afastado interessados. Para o advogado, ainda não. “O que a gente percebe é que os Estados Unidos vêm aumentando o valor das taxas porque aumentam também o rigor da fiscalização. […] O governo Trump passa um recado muito claro: ele é contra a imigração ilegal e tenta ser implacável nesse sentido.”
Mesmo com regras mais rígidas, o número de brasileiros nos EUA não caiu. “A presença de turistas brasileiros no último mês aqui na América foi uma presença recorde.”
Visto tem que corresponder ao propósito
Bicalho alerta para os riscos de tentar burlar o sistema americano. “Se você dentro do território americano pratica uma conduta que esteja em desacordo com o visto que tem, você pode ser removido e ter a entrada banida permanentemente.”
Ele cita o caso do cantor Rodriguinho. “Ele aplicou para um Green Card, que é um visto de habilidades extraordinárias. O visto já estava aprovado, mas o oficial de imigração viu que ele fez um show nos EUA com visto de turista. O visto dele foi negado naquele momento.”
Quanto custa imigrar legalmente?
Os custos variam bastante. “Os vistos de não imigrante, como turista, são mais baratos, com valores inclusive inferiores a 1.000 reais. Já os vistos de imigrante, para quem deseja residir permanentemente nos EUA, chegam a custar até 20.000 dólares.”
Para Bicalho, mais importante que o valor é o planejamento. “O visto deve estar sempre alinhado com o seu propósito. […] A América quer atrair quem vem para somar. O imigrante precisa ser honesto com sua intenção.”