Belo Horizonte será sede do 7º Congresso Brasileiro de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), nos dias 22 e 23 de julho. O evento celebra os 35 anos do movimento RPPNista e coloca Minas Gerais no centro do debate ambiental. O estado lidera o número de reservas privadas do país, com quase 400 áreas cadastradas e mais de 117 mil hectares protegidos.
“É com muito orgulho que a gente fala de RPPN no Brasil. É um case para o mundo”, afirma Jorge Veloso, superintendente da Fundação Biodiversitas, uma das organizadoras do congresso. Ele esteve na 98 News nesta terça-feira (15/7).
Pagamento por floresta em pé
Uma das novidades apresentadas durante o congresso será o avanço de um modelo inédito de remuneração por floresta preservada. A proposta, segundo Veloso, busca reconhecer financeiramente os proprietários que mantêm áreas naturais protegidas.
“A partir deste ano, a gente inaugura uma nova modalidade de remuneração por floresta em pé, que sempre foi um sonho de todo conservador. A estimativa é que essa remuneração varie entre 8 e 12 dólares por hectare”, explica.
A medida busca garantir a sustentabilidade das reservas, que hoje não contam com um arcabouço legal estruturado de apoio.
Conexão entre paisagens e proteção da biodiversidade
Veloso destaca o papel estratégico das RPPNs na proteção dos biomas brasileiros. Embora menores que as unidades públicas, essas reservas atuam como corredores ecológicos e ajudam a manter a conectividade das paisagens, fundamental para a sobrevivência das espécies.
“As RPPNs contribuem com o fluxo gênico, que é fundamental para a manutenção das espécies. O isolamento é uma das principais causas da extinção”, afirma. Ele cita como exemplo a Serra do Espinhaço, que já concentra 89 RPPNs.
RPPNs fora do radar
Durante a entrevista, o superintendente alertou para a perda de protagonismo das RPPNs nos últimos anos. Segundo ele, o movimento já contou com mais incentivos nos anos 1990 e 2000, mas perdeu espaço nas políticas públicas e no financiamento internacional.
“Hoje o principal problema das RPPNs é que elas saíram do radar da conservação brasileira. Não é fácil criar uma reserva. É uma tarefa técnica muito séria. Por isso, o papel das organizações do terceiro setor é essencial”, afirma.
O congresso reunirá instituições como a SOS Mata Atlântica, Funatura, Fundação Boticário e SPVS, além de representantes de oito estados e dos ministérios públicos federal e estaduais.
Biodiversidade como ativo financeiro
A expectativa da Fundação Biodiversitas é que a biodiversidade passe a ser reconhecida como ativo pelas empresas, podendo ser incorporada até mesmo aos balanços contábeis.
“Estamos projetando que, dentro de muito pouco tempo, a gente vai conseguir quantificar o valor da biodiversidade e proporcionar que isso possa ser incluído no balanço das empresas. Isso é uma virada de chave”, diz Veloso.
Ele cita que apenas o setor florestal brasileiro possui mais de 6,9 milhões de hectares de vegetação nativa preservada.
Diálogo com o setor produtivo
Veloso reforça que não há antagonismo entre conservação ambiental e atividade econômica. O objetivo, segundo ele, é construir uma relação de “ganha-ganha” com os setores do agro, mineração e florestas plantadas.
“É possível conservar, gerar renda e receita para os municípios, para o estado e para a União. Nós temos a obrigação de garantir a coexistência harmoniosa entre todos os seres.”
Expectativa para a COP 30
Com a realização da COP 30 no Brasil, em 2025, Veloso acredita que o país tem muito a apresentar ao mundo no campo da conservação privada.
“O Brasil é o único país do mundo onde a conservação privada está prevista dentro do sistema nacional de unidade de conservação. Isso é um ganho muito grande.”
Segundo ele, são mais de 2.100 RPPNs no país, protegendo 870 mil hectares. “Temos incêndios, temos desmatamento, temos problemas. Mas temos também uma sociedade civil engajada na conservação.”