O custo da cesta básica caiu em 11 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese, incluindo Belo Horizonte. A redução acumulada na capital mineira foi de 0,97% entre maio e junho, com alta de 4,59% no ano e 3,57% nos últimos 12 meses. Em outras capitais, como Aracaju, Belém e Goiânia, as quedas foram ainda mais expressivas. Já Porto Alegre e Florianópolis registraram aumentos.
Para o economista Izak Carlos, colunista da 98 News, o movimento indica uma tendência nacional de descompressão nos preços dos alimentos, impulsionada por três fatores principais: valorização do real, queda das commodities e período de safra.
“É o que nós conversamos aqui anteriormente, né? Tempo. A gente precisa de tempo. E o que tá acontecendo é que nós estamos observando três movimentos especialmente que estão colaborando para redução do preço.”, diz. “
Primeiro, valorização do real, que torna commodities alimentícias especialmente mais baratas em reais. Estamos observando desvalorização das commodities internacionais em dólares também. Então temos aí dois fatores conjuntos que contribuem para isso.”
“Agora nós estamos no período de safra dos principais produtos alimentícios e, consequentemente, com mais oferta, a gente observa um preço menor. Tenho mais oferta, melhor preço. Então, calma. Não adianta a gente ficar cortando imposto, não adianta inventar alquimia para reduzir preço de alimentos, porque só maior oferta resolve isso — e maior oferta vem com o tempo.”
Segundo o economista, a alta anterior foi resultado de uma “tempestade perfeita” que envolveu quebra de safra, desvalorização cambial e aumento de custos de produção no Brasil e no mundo.
“A pressão que nós tínhamos antes era uma tempestade perfeita. Estava associada a um aumento de preço de commodities, decorrente de uma menor safra, por causa de intempéries climáticas que afetaram safras no mundo todo. E nós tivemos uma desvalorização muito grande da nossa taxa de câmbio no ano passado — quase 30%. Isso vai ter rebate em preços.”
Diferença entre capitais pode passar de R$ 250
Entre as capitais pesquisadas, o custo da cesta mais baixa foi registrado em Salvador (R$ 623), enquanto São Paulo apresentou o maior valor (quase R$ 900). Questionado sobre essa diferença, Izak explicou que o custo final depende basicamente de dois fatores: localização da produção e demanda local.
“Preços sempre refletem custos. Se não refletirem, temos um problema de mercado. Por que são diferentes entre as regiões? Porque nem todas produzem todos os bens. Tem um teorema na economia que diz que os preços serão iguais em todas as regiões e as diferenças entre elas serão decorrentes dos custos de transporte.”
“Se eu produzo leite ou café em Minas Gerais e São Paulo não produz, hipoteticamente, o custo do café tem que ser maior em São Paulo do que em Minas, porque eu tenho que transportar o café daqui para lá.”
A demanda e o custo de vida nas regiões metropolitanas também interferem. No caso de São Paulo, a densidade populacional eleva os custos logísticos e, consequentemente, os preços.
“Os custos em São Paulo são naturalmente maiores. Os custos de transporte para que a gente chegue até São Paulo são sempre maiores. Na região metropolitana, nós não temos nenhum tipo de produção agropecuária. (…) Temos que expandir o raio para saber onde está essa produção. E temos uma demanda muito maior. Consequentemente, preços mais elevados também.”
Transporte afeta diretamente o preço do prato
A reportagem também abordou o impacto da infraestrutura logística nos preços da cesta básica. Izak destacou que, com um sistema de transporte mais eficiente, seria possível reduzir distorções de preço entre regiões.
“É por isso que quando a gente discute aumento de preço de combustíveis, a gente fala que isso vai ter um repasse elevado para inflação e que vai pressionar a inflação. Se a gente tem um transporte qualificado, que não depende só de rodovia, que consegue chegar mais rápido, a gente pode falar de um preço unificado no Brasil.”