O cooperativismo mineiro ganhou força nos últimos anos e alcançou um novo patamar. Em 2024, o setor movimentou R$ 158 bilhões no estado, segundo dados do Anuário do Cooperativismo Mineiro, divulgado pelo Sistema Ocemg (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais). O crescimento foi de 21,2% em relação ao ano anterior.
O montante representa quase 15% de toda a riqueza produzida em Minas. Supera, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) de cidades como Juiz de Fora e Nova Lima. Para entender o avanço, a 98 News conversou com Ronaldo Scucato, presidente do sistema Ocemg.
Expansão econômica e social
“O cooperativismo vem crescendo no mundo. Nós não somos exceção. Aqui em Minas Gerais, o cooperativismo vai de vento em popa, mas nos diversos setores da economia. Tivemos um salto muito grande de 23 para 24 na economia, mas não apenas na economia — também no social, no cultural, nos diversos aspectos da vida societária, porque o cooperativismo é um trabalho coletivo para proporcionar uma vida melhor para as pessoas.”
O setor reúne hoje 6,7 milhões de cooperados no estado e emprega mais de 60 mil pessoas. Com atuação em segmentos que vão da agricultura ao crédito, as cooperativas têm ampliado sua presença também nas instituições.
De 2021 a 2024, o sistema aumentou sua representação em instâncias formais, passando de 75 para 107 entidades.
Reputação reconhecida internacionalmente
Em 2025, a ONU volta a reconhecer o modelo. O próximo ano foi declarado o Ano Internacional das Cooperativas, repetindo o que ocorreu em 2012.
“A ONU, pela segunda vez, determinou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Isso foi fantástico. Foi o único setor que fez duas vezes bi. Em 2012 também fomos agraciados. E olha, tem um dado que eu gostaria de revelar: em 2012, o presidente da OCB [Organização das Cooperativas Brasileiras] foi à ONU e falou sobre o Dia C. A ONU se encantou com o projeto e determinou que fôssemos ao Congresso Mundial de Kuala Lumpur, na Malásia, para falar sobre ele. O Dia C nasceu aqui em Minas Gerais em 2009.”
“Hoje eu posso dizer que o Dia C é o grande projeto de voluntariado de solidariedade do país”, define Ronaldo.
‘O social é rebocado pelo econômico’
Apesar da ênfase nas ações sociais, Scucato destaca que o motor do cooperativismo é a saúde financeira. Segundo ele, só é possível ampliar o impacto social quando há resultados positivos.
“Nós estamos no mercado fazendo negócios. Porém, é preciso que todos saibam que o prioritário é o econômico. Não é o social o carro-chefe. Priorizar o social é falácia demagógica. Você não constrói um paraíso social em cima de uma ruína econômica.”
“Você precisa dos negócios bem-feitos, do econômico funcionando bem, dá resultado positivo, daí você tira os recursos necessários para aplicar no social. O social é rebocado pelo econômico e é isso que o cooperativismo faz.”
Setor de seguros é a nova aposta
O Sistema Ocemg tem buscado expandir a atuação para setores ainda pouco explorados. Em 2024, foi autorizada a criação de cooperativas de seguros, antes impedida por legislação federal.
“Esse crescimento sempre chega quando há demanda da sociedade. Nós agora instituímos mais um setor no cooperativismo, o setor de seguros. O mundo inteiro tem cooperativa de seguros, e o Brasil, até pouco tempo, a legislação não permitia.”
“Felizmente, agora conseguimos. Através do projeto aprovado e sancionado pela Presidência da República, nós estaremos constituindo as cooperativas de seguro.”
Cooperativas mais antigas e sólidas
Mais de 80 cooperativas mineiras já operam há mais de meio século. Segundo o presidente da Ocemg, 75% das mais de 600 cooperativas em Minas já superaram a marca de 10 anos.
Para ele, o foco agora é consolidar os cooperados nas estruturas já existentes, sem criar novas entidades em excesso. “O que é interessante é o aumento de cooperados nas cooperativas existentes.”
“O próprio Banco Central sempre realça que ele espera chegar o momento em que as cooperativas financeiras estejam em condições para financiar a própria safra brasileira.”
O futuro do setor
Scucato acredita que o setor está pronto para ocupar um espaço ainda maior na economia brasileira. Especialmente no financiamento do agronegócio.
“Aí sim, é que nós vamos ver o nosso agronegócio cada vez mais eficiente, com as iniciativas sendo as financiadoras da produção nacional.”