A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) projeta R$ 17 bilhões em investimentos até 2029 para ampliar o fornecimento de água e esgoto em todo o estado. O plano faz parte da estratégia da empresa para cumprir as metas do Marco Legal do Saneamento, que exige 99% de cobertura com água tratada e 90% com esgotamento sanitário até 2033.
Segundo o presidente da Copasa, Fernando Passalio, a empresa já atingiu desde 2023 a universalização no fornecimento de água, mas tem hoje 78% da população atendida com esgoto tratado.
“Todos os 10 mil empregados diretos e os 8 mil indiretos da Copasa estão com o compromisso de entregar essa universalização até 2033.”
“O marco do saneamento, na minha opinião, é o maior feito regulatório das últimas décadas. É o único setor da economia obrigado a crescer por lei.”
Obras e gargalos do modelo público
Um dos entraves para o avanço das obras, segundo Passalio, está no modelo de contratação pública, que gera lentidão nos processos de licitação.
“Imagina um bairro novo em uma cidade pequena. A gente precisa levar o esgoto até lá. A Copasa licita, o primeiro colocado vence, mas o segundo entra na Justiça. Isso trava o processo. E enquanto a ação não se resolve, o bairro continua sem esgoto.”
“Infelizmente, é a dificuldade do direito público. Existem regras que tiram eficiência da empresa para cumprir os prazos.”
Para enfrentar essas limitações, a Copasa já firmou parcerias público-privadas (PPPs), como o bloco do Vale do Jequitinhonha, que reúne 92 municípios e prevê R$ 3,5 bilhões em investimentos.
“A Copasa continuaria responsável pelo serviço, mas a execução seria feita por uma empresa privada, com mais agilidade. É uma alternativa para garantir a velocidade que a população precisa.”
Combate às perdas e atendimento ao consumidor
Passalio também destacou os investimentos para reduzir perdas na rede e melhorar o atendimento. Hoje, cerca de 37% da água distribuída na Região Metropolitana é perdida, seja por vazamentos, seja por ligações irregulares.
“A Copasa tem 65 mil km de tubulação enterrada. É como dar uma volta e meia ao redor da Terra. São décadas de operação, o que naturalmente exige manutenção e combate a perdas.”
“Estamos agindo para coibir ligações irregulares, que impactam quem paga a conta corretamente. Essa é uma política de justiça e sustentabilidade.”
No atendimento, a empresa também busca simplificar processos. O presidente relatou a redução de exigências para novos empreendimentos:
“O checklist para loteamentos tinha 176 itens. Reduzimos para 32. A visita técnica agora pode ser feita por videochamada. Um processo que levava 300 dias caiu para cerca de 100.”
Tecnologia e monitoramento
A Copasa investe em sistemas de monitoramento remoto e integração de dados. Uma das salas de controle, em Belo Horizonte, acompanha em tempo real o nível de reservatórios em várias regiões do estado.
“É uma sala de monitoramento que parece a NASA. Acompanhamos minuto a minuto os níveis de água. Além disso, estamos fazendo obras de segurança hídrica para interligar os sistemas do Rio Manso e Rio das Velhas, garantindo abastecimento mesmo em períodos de estiagem.”
Questionado sobre o uso de inteligência artificial e digitalização, Passalio afirma que a empresa já está em processo de modernização:
“Estamos desburocratizando a Copasa com apoio da tecnologia. Checklist único, prazo para análise e atendimento mais ágil ao cidadão. Queremos uma Copasa mais eficiente, que respeite o tempo das pessoas.”
Reconhecimento internacional e reuso
A Copasa entrou no ranking da revista norte-americana Time entre as 500 empresas globais com melhores práticas de sustentabilidade e desempenho financeiro. É a única empresa de saneamento da lista.
“O saneamento é a melhor pauta ESG que eu conheço. Leva saúde, dignidade, protege nascentes. E agora vamos além: inauguramos a primeira estação de reuso, onde o efluente tratado será usado por uma indústria.”