O secretário de Governo de Belo Horizonte, Guilherme Daltro, afirmou que sua chegada à prefeitura teve como principal missão pacificar a relação entre o Executivo e a Câmara Municipal, marcada por atritos após a eleição da Mesa Diretora. Segundo ele, “houve um desafio muito grande” e foi preciso agir com rapidez.
“A gente teve uma disputa da presidência muito acalorada, com diálogos duros de ambos os lados. A gente teve que estancar essa sangria e baixar as armas. Acho que conseguimos fazer isso com muita excelência, modéstia à parte”, explicou Daltro em entrevista na 98 News nesta quarta-feira (30/7).
Emendas impositivas e novos mecanismos de equilíbrio
Daltro reconhece que as emendas parlamentares mudaram o perfil da interlocução com os vereadores, mas defende que elas podem fortalecer a governabilidade se forem bem distribuídas. “A gente teve do outro lado do balcão. Sabe da relevância da emenda. O vereador de bairro conhece a ponta da linha. Mas temos que buscar equilíbrio. Por isso trabalhamos com um portfólio da prefeitura para tentar compensar regiões com menor representação.”
Identidade popular e atuação direta nos bairros
Para o secretário, o prefeito Álvaro Damião tem uma “identidade própria” e busca ser reconhecido pela conexão direta com vilas e favelas. “Ele faz uma política popular, não populista. É um self-made man, um cara que venceu pelo talento e trabalho. Anda oito, dez quilômetros por dia. Quer ter essa conexão. Porque ela é volátil, ela não é permanente.”
Segundo Daltro, a gestão atual pretende equilibrar legado de obras, presença nos territórios e capacidade de escuta. “A gente tem uma conversa constante com o presidente da Câmara. Esse momento de tensão do começo do ano foi superado.”
Redes sociais, ataques e falsa sensação de opinião pública
Daltro criticou o peso excessivo das redes sociais no debate político e alertou para o risco de elas falsearem a realidade. “Falei com o senador Rodrigo Pacheco: isso é uma falsa sensação de público. O Fuad, por exemplo, não tinha redes fortes, mas compensou com conexão fidedigna com vilas e favelas. A rede social às vezes induz uma realidade que está distante do que se vê na rua.”
Tarifa zero: proposta não se sustenta no formato atual
O secretário afirma que não há objeção ideológica ao projeto de tarifa zero no transporte público, mas que é preciso ter um estudo técnico robusto. “O que foi apresentado não para de pé. Estamos falando de quase R$ 3 bilhões por ano. Uma planilha de Excel não é suficiente. O estudo propôs que empresas com mais de nove funcionários arcassem com os custos. Mas e o dono de uma padaria com 15 funcionários que já está no prejuízo?”
Ele também questionou a viabilidade jurídica e econômica do modelo. “Precisamos estudar bem o impacto sobre as empresas e o risco de fuga de CNPJs. A discussão é válida, mas falta base técnica.”
Verticalização, desburocratização e ambiente de negócios
Daltro disse que a prefeitura quer facilitar investimentos e desburocratizar processos, como concessão de alvarás e licenciamento urbanístico. “Queremos transformar BH num ambiente de negócios. Tirar a burocracia para eventos, licenças e bits. A cidade já é adensada. A verticalização é inevitável. Mas precisa casar com a mobilidade.”
Relação com Estado e União: mais diálogo, menos repasses
Sobre a relação com os governos estadual e federal, o secretário afirmou que há diálogo, mas ainda faltam repasses regulares, principalmente na área da saúde. “O piso da enfermagem, por exemplo, cai um mês no dia 5, outro no dia 18. A gente tira recurso do tesouro e não recebe corrigido. Estamos conversando com o ministro Padilha para resolver isso.”
No caso do governo de Minas, Daltro apontou avanços recentes. “Abrimos canal com a Secretaria de Infraestrutura. Um exemplo é o viaduto do Betânia, essencial para a linha 2 do metrô. Também articulamos a cessão de terreno para um hospital. Votação expressiva, construída com diálogo.”
Pactuação federativa injusta
Ao comentar o pacto federativo, o secretário criticou a distribuição desigual de receitas entre União, estados e municípios. “Do que se arrecada, 54% fica com a União, 32% com os estados. O resto com os municípios. Mas a pessoa mora em Belo Horizonte, não no Brasil. É uma luta difícil, mas como diz meu pai: vamos chorar dando unha.”