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Largados e Pelados: sinais de que a falta de recursos pode prejudicar a capacidade de decisão

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Steve Knutson | Unsplash

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A série “Largados e Pelados” é intrigante. Ao abandonar pessoas com poucos utensílios e totalmente sem roupas em ambientes inóspitos, é possível compreender melhor o comportamento dos humanos mais primitivos. Salta sempre aos meus olhos o quanto a escassez de alimentos pode trazer fortes efeitos no corpo e na capacidade de tomar decisões. A falta do básico promove irritabilidade, atritos entre os participantes e julgamentos um tanto quanto equivocados de um ponto de vista mais racional.

Pare agora para pensar sobre quem vive nas cidades sem o básico. Sofrem com fome, frio, carências de abrigo, saúde, educação e segurança. Estão submetidos a um nível de estresse constante, praticamente intangível para quem vive com alguma dignidade. Tais pessoas teriam a clareza mental para tomar boas decisões?

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A ciência já estudou se existe alguma relação entre pobreza e inteligência. Os resultados apontam para uma resposta sim. Vamos analisar alguns sinais de que a falta de recursos pode prejudicar a capacidade de decisão e, portanto, fazer perpetuar as condições de pobreza:

 

●    Sinal 1: Estresse mental

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Eldar Shafir, professor de ciência comportamental e políticas públicas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, propõe um desafio: Tente se lembrar da sequência 7, 4, 2, 6, 2, 4, 9.

Enquanto tenta salvar os números na memória, sua mente fica cheia. Você perde espaço mental para a realização de outras tarefas. Os estudos do professor demonstram que pessoas preocupadas com problemas financeiros exibem queda na função cognitiva semelhante à perda de até 13 pontos no QI (quoeficiente de inteligência), o equivalente a ficar uma noite inteira sem dormir.

Viver em situação de pobreza traz estresse mental porque se está sempre sob a tensão de conseguir dinheiro para pagar as contas e colocar comida em casa. Os efeitos são semelhantes a ter que guardar sete dígitos na cabeça o tempo todo.

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●    Sinal 2: Carências na Saúde

Crianças que vivem em condições mais vulneráveis, em geral, têm pior desempenho na escola. As infecções parasitárias interferem com o equilíbrio energético, porque prejudicam a absorção de nutrientes e obrigam o organismo a investir energia na reparação dos tecidos lesados e na mobilização do sistema imunológico, para localizar e atacar os germes invasores. Quadros constantes de diarreia, durante os primeiros cinco anos de vida, podem privar o cérebro das calorias necessárias para o desenvolvimento pleno e comprometer para sempre a inteligência (Varella, 2021). Tais doenças ocorrem, em especial, nas crianças que não dispõem de condições mínimas sanitárias. Atualmente, no Brasil, temos mais de 100 milhões de pessoas sem coleta de esgoto e pouco mais de 50% dos esgotos tratados.

●    Sinal 3: Relações de Longo Prazo

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Adina Zeki al Hazzuri, professora da Universidade de Miami, pesquisou sobre o envelhecimento cerebral ao longo de 20 anos. Um dos objetivos do estudo era medir a influência de um rendimento baixo no funcionamento do cérebro a longo prazo.

Os resultados indicam que pessoas que viveram em situação de pobreza o tempo todo durante as duas décadas tiveram resultados muito piores do que aquelas que nunca passaram por essa experiência. Como um tira-teima, o estudo foi conduzido novamente apenas com pessoas de alto nível educacional e saudáveis no início do estudo. A associação entre a pobreza e a função cognitiva permaneceu.

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Conclusão

Os resultados das pesquisas nos apontam para conclusões relevantes sobre a questão da pobreza:

●    a pobreza não é resultado unicamente de preguiça ou má vontade;

●    os níveis de QI necessários para superar obstáculos tendem a ser limitados exatamente nas pessoas que mais deles precisam;

●    a vulnerabilidade social tende a ser reiterada através das gerações caso não existam medidas afirmativas e de combate às suas causas;

Resultados de um artigo publicado na “Science” em 2012, revelam também que indivíduos de baixa renda têm uma probabilidade maior de se envolver em comportamentos que reforçam as condições de pobreza, como o endividamento. E esse ciclo vicioso precisa ser efetivamente rompido, por meio de um mix entre políticas sociais, crescimento da economia e empregabilidade.

Que fique claro, a pobreza não causa falta de inteligência. É o que está relacionado à ausência de uma certa quantidade de dinheiro que promove danos cerebrais. A fome, as deficiências no sistema de saúde (e saneamento), a insegurança, a falta de uma moradia adequada, tudo isso pode sim ter impactos consideráveis no cérebro e na capacidade de decisões das pessoas. Por fim, após todas essas informações, você consegue se lembrar da sequência de 7 números?

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