O Governo Federal avalia elevar as tarifas sobre produtos à base de poliéster importados da China para tentar proteger a indústria têxtil brasileira, que enfrenta forte concorrência de itens chineses com preços até 25% inferiores aos nacionais. A medida foi adotada pelo governo brasileiro após denúncias de dumping — prática de exportar produtos a preços abaixo do custo de produção ou do valor de mercado local para eliminar a concorrência e ganhar fatia de mercado.
A decisão sobre a aplicação de uma tarifa provisória de 30%, prevista para outubro, foi adiada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O impasse reacendeu a disputa entre diferentes segmentos da cadeia têxtil.
Setor têxtil cobra medidas de defesa
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas (Abrafas), a concorrência desleal já provocou o fechamento de cinco linhas de produção no país. Em Minas Gerais, o Sindimalhas acompanha o caso de perto. O presidente do sindicato, Aroldo Teodoro Campos, participou de uma reunião com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, defendendo a cobrança da tarifa como saída emergencial.
“Os preços dos chineses realmente foram muito baratos a vida inteira, mas agora, realmente, eles vêm em um ataque à indústria brasileira, que precisa de alguma defesa. O estudo técnico feito pelo próprio Ministério da Indústria e Comércio aponta que o dumping chinês é muito maior do que se imaginava. Foi determinada uma taxa antidumping da ordem de 69 centavos de dólar por quilo de malha importada da China. Isso representa, mais ou menos, 25% sobre o custo hoje praticado pela China. Não é nenhuma sobretaxa que vai blindar a indústria da importação chinesa, mas vai trazer a indústria nacional para o jogo, numa concorrência honesta com o produto chinês”, defende.
Nordeste teme impacto sobre confecções locais
Em sentido oposto, lideranças do PSB em Pernambuco, como o prefeito do Recife, João Campos, e o deputado Felipe Carreras, pressionam o governo contra a medida.
Eles alertam que o aumento de tarifas pode encarecer a matéria-prima usada nos polos de confecção de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, regiões fortemente dependentes das importações chinesas.
“Reforcei que essa medida preocupa profundamente as empresas do segmento, em especial Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, cujo dinamismo econômico depende diretamente desses insumos. Um aumento tarifário agora encareceria a matéria-prima, pressionaria a folha de custos de milhares de pequenas e médias confecções e colocaria empregos em risco”, pontuou João Campos nas redes sociais.
Investigação sobre poliéster chinês segue até 2026
Aberta em 2024, a investigação do governo federal sobre o dumping de malhas de poliéster da China deve ser concluída apenas em 2026. Em setembro, o Brasil já havia aplicado taxas antidumping sobre fibras sintéticas de China, Índia, Tailândia e Vietnã, válidas por até cinco anos — medida que também busca proteger a indústria nacional de desequilíbrios no comércio internacional. Enquanto isso, o adiamento da decisão sobre o poliéster chinês mantém o setor têxtil dividido entre a urgência de proteger a produção local e o risco de encarecer insumos essenciais às confecções.
Para Breno Palhares, sócio-diretor da Inter Aduaneira Assessoria em Comércio Exterior, os interesses dentro de uma mesma cadeia produtiva são variáveis, o que dificulta estabelecer medidas no caso de dumping.
“Determinado produtro atrapalha um elo da cadeia. Quem usa o fio, vai questionar, vai reclamar que um anti-dumping, por exemplo, uma sobretaxa sobre o fio de poliéster, atrapalha minha produção de tecido. Agora, quem usa, quem já é produtor de tecido, que importa tecido pronto da China, eu vou falar: ‘não, pra mim não é problema taxar ali porque vou trazer tecido pronto da China”, explica.
Breno analisa também a posição e a preocupação do prefeito do Recife e lideranças políticas com possíveis prejuízos e perdas para a indústrial têxtil da região.
“Eles estão defendendo uma questão regional, setorial e que tem sua razão de ser. Para eles ali, tem sua razão de ser. Agora, o governo brasileiro precisa analisar isso no âmbito federal, no âmbito de toda a cadeia. O impacto que vai acontecer”, finaliza Breno.