O Índice de Confiança do Consumidor de Belo Horizonte registrou queda em junho, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Ipead da UFMG. Para entender o que motivou esse recuo, a 98 News conversou nesta terça-feira (1/7) com a professora de economia do UniBH, Vaníria Ferrari. Segundo ela, o cenário econômico atual e a percepção sobre o futuro explicam a maior cautela do consumidor.
“Esse índice de confiança envolve dois aspectos principais, que é a situação atual, a percepção do consumidor com relação à situação atual econômica do país e dele enquanto condição financeira, e o índice de expectativa. O que ele espera em termos de economia, da sua própria situação financeira, empregabilidade, e até mesmo se o desejo é em adquirir bens de consumo mais duráveis, tipo o carro, imóvel”, explica Vaníria.
A economista afirma que o consumidor está mais conservador e inseguro, comportamento influenciado por fatores como inflação e taxa de juros elevada.
“A inflação vem corroendo o poder aquisitivo das pessoas, então acaba que não tem tanto recurso, né? Já tem menos recurso sobrando para consumo, então mais para subsistência. A nossa taxa de juros crescente, sem uma perspectiva de curto prazo de queda, encarece o empréstimo. Então, se a pessoa tem intenção de comprar um imóvel, um veículo financiado, ele já recua e fala: ‘Não, vou esperar o melhor momento’”, avalia.
Outro ponto destacado é o crescimento do endividamento, especialmente entre as classes mais baixas, o que limita ainda mais o consumo.
“A maior parte do consumo que a gente tem visto, inclusive, veículo tem sido vendido bastante, imóvel também não caiu tanto, porque nós temos uma classe que está fazendo esse consumo. Mas a classe média baixa e mais baixa está perdendo poder de compra”, explica.
Segundo Vaníria, o comprometimento da renda com dívidas, especialmente no cartão de crédito e no cheque especial, também pesa no recuo da confiança.
“A grande maioria das dívidas, elas estão no consignado e estão no cartão de crédito. As pessoas entendem o cartão de crédito como sendo condição de comprar aquilo que ele não tem dinheiro para comprar, sem entender que aquilo ali é uma dívida que ele está contraindo”, alerta.
Apesar do cenário de cautela, o levantamento apontou uma leve melhora na percepção sobre emprego e inflação. Para a economista, o dado precisa ser analisado com cuidado.
“Nós temos realmente uma redução do desemprego, mas não necessariamente as pessoas estão sendo empregadas. Muitas vezes elas estão partindo para o empreendedorismo próprio, trabalhando como autônomos ou já desistiram, que tem aquela classificação dos desalentados”, afirma.
Ainda assim, há uma expectativa de melhora. “A situação atual está um pouco recuada, as pessoas estão aguardando o melhor momento, sendo mais conservadoras. Mas a expectativa futura está menos negativa. As pessoas acham que está difícil agora, mas que há uma tendência de melhora, tanto em Belo Horizonte como no Brasil”, conclui.