O Dia Internacional da Igualdade Feminina, celebrado em 26 de agosto, trouxe à tona um retrato atualizado da presença das mulheres no mercado de trabalho. Um levantamento divulgado pela FIEMG mostra que, apesar dos avanços em participação e qualificação, a desigualdade de gênero segue forte em áreas como indústria e transporte.
Avanços e limites
Segundo a coordenadora de estudos econômicos da FIEMG, Juliana Gagliardi, houve progresso nas últimas décadas. Ela relata que a escolaridade das mulheres se equipara a dos homens, porém ainda existem obstáculos.
“O nosso estudo mostrou que ao longo dos anos houve uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Além disso, houve um avanço em termos de qualificação profissional. Hoje o nível de escolaridade das mulheres se equipara ao dos homens e em alguns setores chega a ser maior.”
Mesmo assim, os números revelam um obstáculo persistente: “as mulheres ganham aproximadamente 25% a menos do que os homens, ainda que ocupem as mesmas posições.”
Setores ainda masculinizados
A pesquisa indica que 55% da mão de obra formal no Brasil é composta por homens. Entre os segmentos analisados — indústria, construção, agropecuária, comércio e serviços — apenas este último apresenta maioria feminina.
“Muitas vezes, as mulheres estão alocadas em setores com salários menos competitivos e que exigem menor qualificação. Isso não se deve necessariamente à falta de preparo, mas a questões estruturais e estigmas que colocam determinadas áreas como masculinizadas.”
Um exemplo é o grupo formado por ciência, tecnologia, informática e engenharia. Embora tenha havido aumento na presença de pesquisadoras, engenheiras e arquitetas, o cenário ainda é desafiador.
“Na formação de matemáticos, estatísticos e profissionais de informática, esse gap aumentou nos últimos anos. É preciso estimular o acesso das mulheres a essas áreas e combater a visão de que determinados setores são exclusivos dos homens.”
Papel das empresas e do Estado
Para Juliana, a mudança exige esforço conjunto de políticas públicas e iniciativas internas nas empresas. “A gente precisa olhar a sociedade como um todo. O Estado pode agir com políticas públicas e as empresas devem não apenas estimular a entrada, mas também garantir a permanência da mão de obra feminina nesses setores.”
Um dos entraves é o chamado “teto de vidro”. “Ainda que a mulher tenha qualificação e experiência, muitos cargos de gestão e liderança permanecem inacessíveis. É fundamental incentivar e reter essas profissionais também em posições de comando.”
Impacto na economia
A desigualdade não é apenas social, mas também econômica. “Pesquisas mostram que maior diversidade dentro das empresas resulta em mais inovação. Inovação gera produtividade, e produtividade traz ganhos financeiros. Incluir mulheres e garantir diversidade de gênero e raça fortalece o desenvolvimento sustentável e gera efeitos positivos para toda a sociedade.”