O presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), determinou na madrugada desta terça-feira (4/11) a prisão de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA). A ordem foi dada após pedido do relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). É a terceira prisão realizada pela CPI.
Segundo Viana, o depoente mentiu reiteradamente enquanto prestava esclarecimentos na condição de testemunha. “Em uma série de oportunidades, o depoente, estando na condição de testemunha, fez afirmação falsa, negou e calou a verdade”, afirmou o senador.
Em seguida, decretou a prisão: “Em nome dos aposentados, quase 240 mil que a CBPA enganou, senhor Abraão Lincoln da Cruz, o senhor está preso.”
CPMI aponta falso testemunho em quatro situações
Para justificar o pedido de prisão, o relator citou quatro episódios que caracterizam falso testemunho:
Relação com Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS: Abraão Lincoln tentou negar vínculo, o que, segundo a CPI, foi uma tentativa de omitir a verdade.
Ligação com Gabriel Negreiros: O depoente disse que era uma relação “institucional”, mas o relator afirmou ter provas de vínculo mais próximo.
Poderes de movimentação financeira na CBPA: Abraão Lincoln negou que Adelino Rodrigues Júnior tivesse autonomia para movimentar recursos da entidade, mas documentos mostraram o contrário.
Saída da antiga Confederação Nacional de Pescadores e Aquicultores (CNPA): Abraão Lincoln alegou ter renunciado, porém o senador Fabiano Contarato (PT-ES) apresentou decisão judicial determinando sua saída.
“O depoente, na qualidade de testemunha, fez afirmação falsa ou calou a verdade”, resumiu Gaspar.
Depoente tentou usar silêncio e foi advertido
Logo no início da sessão, Abraão Lincoln comunicou que ficaria em silêncio em todas as perguntas.
Gaspar alertou que avaliaria a prisão por falso testemunho.
“Vou escolher exatamente os motivos do pedido de prisão em flagrante. Isso talvez vá me ajudar no final dos trabalhos”, afirmou o relator.
Entidade é investigada e pode ter causado rombo de R$ 221 milhões
A CBPA é um dos alvos da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que apura fraudes em benefícios previdenciários. Segundo documentos enviados à CPMI, a confederação teria atuado como um dos eixos da estrutura, causando impacto financeiro de R$ 221,8 milhões em descontos indevidos de aposentados e pensionistas.
A investigação identificou ainda movimentação suspeita de R$ 410 milhões na conta da entidade entre maio de 2024 e maio de 2025, em uma agência do Banco do Brasil em Ceilândia (DF). Foram R$ 205,5 milhões em entradas e R$ 204,4 milhões em saídas no período.
Além de Brasília, a confederação tem articulação política em estados como Paraíba, Maranhão e Rio Grande do Norte e possui assento no Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (Conape), do governo federal.
Terceira prisão na CPI
Com a decisão, sobe para três os presos pela CPI do INSS:
- Abraão Lincoln Ferreira da Cruz — presidente da CBPA
 - Carlos Roberto Ferreira Lopes — presidente da Conafer
 - Rubens Oliveira Costa — apontado pela Polícia Federal como intermediário do Careca do INSS
 
Todos foram presos por falso testemunho.
