O presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), Flávio Roscoe, alertou para os riscos de uma postura retaliatória do Brasil frente ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos. Em entrevista à 98 News nesta terça (15/7), ele disse que adotar a chamada lei de reciprocidade pode custar caro ao país.
“É como dar um murro numa parede. O que dói é a sua pele, os seus ossos, seus nervos na mão. Os Estados Unidos não vai sentir em nada ou quase em nada a nossa retaliação, mas vai nos dar de exemplo para o resto do mundo”, disse.
A medida em discussão prevê uma tarifa de até 50% sobre produtos norte-americanos, como resposta à decisão dos EUA de sobretaxar o aço e o alumínio brasileiros.
‘Nós não somos iguais aos Estados Unidos’
Roscoe argumenta que o Brasil não deve se alinhar a medidas de confronto direto com uma potência como os EUA. Segundo ele, o ideal seria manter a tradição de neutralidade diplomática.
“Nós temos que dar um passo atrás com humildade, entendendo a nossa posição em relação aos Estados Unidos. Se nós formos retalhar os Estados Unidos, quem vai perder é o Brasil.”
Ele afirma que, ao contrário de outros países do BRICS, o Brasil estava em posição vantajosa antes do aumento tarifário: era o país com menor alíquota para exportações de aço e alumínio aos EUA.
“Nós estávamos melhores que os outros. Se o seu produto custa 9 e o dos outros custa 10, você está em vantagem. O Brasil estava na menor taxa. Ninguém estava melhor que a gente.”
Alinhamento geopolítico agravou a situação
Para o presidente da Fiemg, o aumento na tarifa não foi causado por questões técnicas ou econômicas, mas sim por um realinhamento geopolítico do Brasil contrário aos interesses norte-americanos.
“O que mudou foi o posicionamento claro do Brasil, alinhado contra os interesses americanos. O presidente Donald Trump havia dito: ‘Quem ficar contra o dólar, quem ficar contra os Estados Unidos será tarifado’.”
Roscoe relaciona o tarifaço à recente cúpula dos BRICS, realizada no Brasil, e ao apoio do governo brasileiro à criação de uma nova moeda lastreada pela China.
“Não é por acaso que logo depois da cúpula veio o tarifaço. O Brasil deu apoio ao Irã e à moeda chinesa. Isso, com certeza, foi interpretado pelos americanos como um ataque.”
Diplomacia como única saída
Roscoe afirmou ter participado de reunião com o Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), na qual ouviu a posição oficial do governo brasileiro: negociar.
“Fiquei feliz com esse posicionamento. Entre os técnicos, há perfeita compreensão de que não dá para comprar essa briga. Se a política não contaminar, tem tudo para mantermos uma boa relação histórica.”
Ele também expressou preocupação com o Brasil se tornar “exemplo” para outros países sobre o que acontece quando se confronta os EUA. “Eu temo muito que o Brasil seja usado como exemplo mundial do que acontece com quem peita os Estados Unidos”, disse.