A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos comprados do Brasil ameaça diversos setores da economia, incluindo o de rochas ornamentais, com reflexos diretos em Minas Gerais. A medida, anunciada para entrar em vigor a partir de 1º de agosto, já tem gerado cancelamentos de pedidos e prejuízos aos exportadores.
“Nosso setor já teve reflexos imediatos na indústria de beneficiamento, de desdobramento de blocos em chapas. A gente teve cancelamentos de pedidos, contêineres que já estavam cheios de material para ser exportado para os Estados Unidos, e o cliente cancelou. O exportador teve que retornar o contêiner à indústria, desovar o material e ainda pagar taxas aduaneiras e de embarque”, relata Eduardo Félix, presidente do Sinrochas, sindicato que representa o setor de rochas naturais.
O presidente do Sinrochas marcou presença na 98 News nesta sexta-feira (25/7) para falar sobre o assunto. Segundo ele, o setor está buscando união entre empresas e associações para reagir à medida.
“O Centrorochas está à frente de uma negociação junto ao órgão americano Natural Stone Institute (NSI). Eles fizeram uma carta ao ministro da economia dos Estados Unidos para rever a situação do setor de pedra, onde são pedras exclusivas, exóticas, super exóticas, originadas do Brasil e que vão fazer falta no mercado americano”, afirmou.
Minas deve sentir efeitos indiretos, mas Espírito Santo será o mais afetado
Minas Gerais é um dos principais estados produtores de pedras ornamentais do Brasil, com destaque para pedreiras localizadas em municípios como Papagaios, Pompeu, Paropeba e Itabirito. No entanto, a maior parte do beneficiamento e exportação é realizada pelo parque industrial do Espírito Santo.
“As pedreiras produzidas em Minas, quando industrializadas em chapas, são na maioria das vezes exportadas para os Estados Unidos. Essa sim vai refletir aqui um pouco a questão do tarifasso. Mas a indústria de transformação em Minas é pequena. Vamos dizer, até irrelevante para essa questão da tarifa. O setor que vai mais ter desemprego e perdas relevantes será o Espírito Santo”, explicou Félix.
Ainda assim, o impacto pode ser sentido em cadeia. “Afetou a exportação de chapas, a mina que produz a rocha natural, que vende o bloco, automaticamente vai reduzir sua produção. Vamos ter redução nas pedreiras, sim.”
Caminhos para driblar o tarifaço
Com a proximidade do prazo, as lideranças do setor ainda tentam negociar alternativas. “Meu ponto de vista seria tratar uma prorrogação desse prazo. Não só para o setor de rochas, mas entre governos, talvez para janeiro. Aí a gente teria tempo suficiente para organizar conversas e tentar amenizar essa taxa.”
Mesmo com a perspectiva de que a taxação será mantida, Eduardo acredita em uma possível redução do percentual. “A gente tem certeza de que vai ter essa taxa. O percentual é que está para se decidir. Mas acredito que a tarifa vai ser reduzida, sim, porque não é bom para a economia nem para o Brasil, nem para os Estados Unidos.”
Diante do cenário adverso, o setor busca diversificar mercados. “A adaptação para outros mercados é automática. Estamos buscando o mercado interno, que também consome muita pedra natural, e outros mercados emergentes como o Sudeste Asiático — Singapura, Indonésia. Mas é uma incógnita: onde vamos encontrar mercado para absorver o estoque já produzido para os Estados Unidos?”
Félix também citou que o Brasil exporta blocos de rochas brutas para países como China, Itália e Turquia, o que pode aliviar parte dos impactos para as pedreiras mineiras. “A maioria dos compradores de bloco é a China e a Itália. Para Minas Gerais, vamos ter um reflexo a longo prazo, mas há alternativas.”