Se você sente que a bateria acabou antes do ano terminar, ou que precisa de férias antes das férias chegarem, pode ser “Dezembrite”. O termo ganhou força recentemente e descreve o cansaço acumulado pelas pessoas em dezembro, além da ansiedade pela chegada do recesso. E você, já sentiu “dezembrite”?
A chamada dezembrite não é um termo clínico, mas chama atenção em conversas online. Trata-se daquele sentimento difuso de sobrecarga, ansiedade e até uma certa tristeza que bate justamente quando as luzes de Natal se acendem.
Para entender o que acontece com o nosso cérebro nesta época e como diferenciar o cansaço normal de algo mais grave, conversamos com a psicóloga Fernanda Fusco, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental.
O que é a “Dezembrite” e por que ela ataca agora?
Dezembro não é apenas mais um mês no calendário; psicologicamente, ele representa um “prazo final”. Segundo Fernanda Fusco, o período funciona como um gatilho emocional potente porque mistura o encerramento de ciclos com a cobrança por balanços de vida.
“O simbolismo de ‘fechar o ano’ ativa gatilhos relacionados a expectativas, frustrações, perdas e pendências acumuladas. Além disso, a pressão por participar de eventos sociais, entregar resultados no trabalho e planejar o ano seguinte intensifica a sensação de urgência e desgaste”, explica a especialista.
Sinais de alerta
Como saber se você cruzou a linha do cansaço aceitável? A psicóloga alerta que quando o estresse começa a comprometer o funcionamento diário: sono, humor e concentração, é hora de parar.
Fique atento a sintomas como:
- Irritabilidade constante;
- Dores de cabeça frequentes;
- Fadiga que não passa mesmo após dormir;
- Apatia ou crises de choro.
O paradoxo da agenda: quando o lazer vira obrigação
Uma das maiores armadilhas da “Dezembrite” é o excesso de compromissos sociais. Confraternizações da empresa, amigo oculto, reuniões familiares… O que deveria ser prazeroso acaba sendo interpretado pelo cérebro como ameaça.
Fernanda explica que o acúmulo de demandas mantém o sistema nervoso autônomo em alerta, elevando o cortisol (hormônio do estresse). O resultado é aquela sensação de estar “sempre ligado”, mas mentalmente ausente.
“Ao transformar o lazer em mais uma tarefa, perdemos o potencial restaurador que ele poderia oferecer. Isso pode gerar sensação de culpa ou inadequação por não corresponder às expectativas sociais.”, pontua a profissional
A armadilha do “Balanço Contábil” da vida
Outro vilão da saúde mental nesta época é a retrospectiva pessoal focada no fracasso. É comum olharmos para as metas de janeiro que não foram batidas e nos sentirmos incompetentes.
Para a psicóloga, a culpa geralmente vem de uma cobrança desproporcional e de parâmetros de produtividade irreais. A “vacina” contra isso é o autocompasso:
“É fundamental resgatar uma visão mais ampla e compassiva da trajetória do ano. Isso inclui reconhecer avanços subjetivos, resiliência diante dos desafios e conquistas que não estavam previstas”, orienta Fernanda.
Estresse passageiro ou algo mais grave?
É crucial diferenciar a “Dezembrite” (que é reativa ao momento) de quadros clínicos como a depressão ou o burnout.
Segundo a especialista, a chave está na duração e na intensidade. Enquanto a tensão de fim de ano tende a passar com a redução dos estímulos, transtornos mais sérios persistem.
Quando procurar ajuda profissional? Se sintomas como desmotivação profunda, exaustão crônica e perda de prazer nas atividades permanecerem por mais de duas semanas, prejudicando seu trabalho ou relacionamentos, não hesite em buscar terapia.
Kit de Sobrevivência para o fim de ano
Para quem já está sentindo o peso da rotina, Fernanda Fusco separou estratégias práticas para entrar em janeiro com a saúde mental preservada (o chamado “Janeiro Branco”):
Aprenda a dizer “não”: Recusar convites com gentileza e firmeza é um ato de autocuidado, não de grosseria.
Não tente ser onipresente: Entenda que não é possível estar em todos os eventos ao mesmo tempo.
Faça pausas reais: Crie momentos no dia para respirar e se reconectar com o presente.
Cuide do básico: Sono, alimentação e movimento corporal são essenciais para a regulação emocional.
“Aproveitar esse período para iniciar psicoterapia, reorganizar a rotina e cuidar da mente deve ser visto como investimento, não como luxo”, finaliza a psicóloga.
