O Banco Central anunciou novas regras para elevar os padrões de capital mínimo e de controle das instituições financeiras, como fintechs, corretoras e instituições de pagamento. A medida vem em resposta ao aumento das tentativas de uso desses canais pelo crime organizado e à necessidade de fortalecer a integridade e a segurança do sistema financeiro.
Do ponto de vista da inovação, essa medida se encaixa perfeitamente em um ciclo conhecido no mundo econômico e tecnológico. No início de um novo setor, reduz-se a regulação e derrubam-se as barreiras de entrada para fomentar o crescimento e estimular a criatividade. Foi exatamente isso que o Banco Central fez ao longo da última década: abriu espaço para novas instituições digitais que ampliaram a concorrência, reduziram tarifas e democratizaram o acesso a serviços financeiros.
Agora, em uma nova fase desse ciclo, começa a apertar as regras. Isso não é um retrocesso, é um amadurecimento. Quando o setor se estabelece, passa a ser necessário reforçar padrões de governança, capitalização e controle. É a transição da fase de crescimento para a fase de consolidação, em que o objetivo passa a ser a sustentação e a perenidade do sistema.
Naturalmente, essa nova regulação tende a provocar movimentos de consolidação. Fintechs menores podem ser incorporadas por grupos maiores. Algumas instituições podem encerrar atividades e o setor bancário deve, inevitavelmente, passar por uma rodada de concentração. Esse é o movimento normal em sistemas inovadores: o mercado primeiro fragmenta com a entrada de novos players e depois se reorganiza em torno dos mais sólidos.
Em economia, não existe alquimia. A regulação é como um remédio: na dose certa, fortalece o sistema e garante estabilidade. Em excesso, pode sufocar a inovação e destruir o que foi conquistado com tanto esforço. O desafio do Banco Central agora é encontrar esse equilíbrio — manter o dinamismo e a competição que as fintechs trouxeram sem abrir mão da segurança e da confiança do sistema financeiro.
