O uso das chamadas “canetas emagrecedoras”, à base de semaglutida, como o Ozempic, segue em alta no Brasil, mas ainda cercado de dúvidas. Um novo estudo publicado na revista Diabetes, Obesity and Metabolism apontou que a maioria dos pacientes volta a ganhar peso ao interromper o medicamento — e com o reganho, reaparecem alterações como colesterol elevado, glicemia descontrolada e pressão alta.
Para esclarecer o tema, a médica Eliana Teixeira, especialista em endocrinologia, nutrologia e emagrecimento, conversou com a 98 News e destacou que o problema está muito além do remédio.
“A obesidade é uma doença crônica. Como toda doença crônica, não tem cura, tem tratamento. Quando o paciente interrompe a medicação sem mudar o estilo de vida, o peso tende a voltar”, explicou.
Segundo a especialista, a semaglutida atua como um hormônio intestinal que reduz a fome e a inflamação causada pelo excesso de gordura. No entanto, se usada isoladamente, sem reeducação alimentar ou prática de exercícios, pode levar à perda de massa muscular.
“O nosso metabolismo está ligado à quantidade de músculos. Se o paciente perde músculo e depois ganha peso de novo, ele recupera gordura. O metabolismo piora e o risco de complicações aumenta”, alertou.
Para Eliana, é comum que as pessoas associem o emagrecimento apenas ao remédio. “Essas drogas são potentes e fazem com que o paciente coma porções menores. Mas sem um planejamento alimentar e atividade física, o resultado dificilmente se sustenta”, explicou.
Comparação com outras doenças crônicas
A médica também reforçou que o acompanhamento contínuo é indispensável.
“Quando um hipertenso para a medicação, a pressão sobe. Com a obesidade é igual. Existe muito preconceito, como se a pessoa fosse ‘sem vergonha’, mas estamos falando de uma doença reconhecida como tal desde 2013. Precisamos orientar e tratar, não julgar”, disse.
Estratégia individualizada
Eliana defendeu que cada paciente deve ser acompanhado de forma personalizada.
“Eu não trato dois pacientes da mesma família do mesmo jeito. Cada um tem um estilo de vida, um nível de estresse, uma rotina. O tratamento precisa ser adaptado a cada realidade”, afirmou.
Além de adequações na alimentação e exercícios, a médica explica que a semaglutida pode ser utilizada de forma contínua ou em momentos específicos.
“O importante é monitorar sempre. A obesidade exige acompanhamento para o resto da vida. Não é só perder peso; é sustentar os resultados. Às vezes, é preciso retomar o medicamento em situações de risco, como férias ou uma lesão que interrompe a atividade física”, orientou.