Num futebol que tantas vezes confunde talento com grito, e liderança com ostentação, Gustavo Scarpa surge como um ponto fora da curva, e que bom que seja assim. Em recente entrevista, o jogador do Atlético Mineiro falou sobre como alguns avaliam equivocadamente sua disposição em vestir a camisa do Galo. Por quê? Porque seu comportamento não se encaixa no estereótipo do boleiro-padrão. Seus hábitos são diferentes, seu estilo é mais discreto. E, como bem observou, isso não significa ausência de felicidade ou de compromisso.
Scarpa é inteligente. E aqui está o ponto central: inteligência é um ativo subestimado em qualquer ambiente, seja no futebol, na política, nas empresas, nas rodas de conversa. Inteligência não é só conhecer o jogo, mas entender o contexto, interpretar pessoas, medir palavras e agir com propósito. É saber que nem sempre quem fala mais é quem faz melhor; e que a imagem que se constrói vai muito além da coreografia nas redes sociais.
A cultura do futebol, muitas vezes, penaliza quem não entra no figurino do barulho, da frase de efeito ou da vida exposta como vitrine. Scarpa parece não se importar. Prefere o caminho da leitura, do raciocínio e, principalmente, da coerência. E isso deveria ser visto não como distanciamento, mas como maturidade.
Ser inteligente é saber onde se está, mas também saber quem se é, e não abrir mão disso para se encaixar na moldura alheia. O futebol brasileiro, e o Brasil, marcados por altos e baixos de comportamento dentro e fora de campo, e da vida, precisam de mais referências assim.
No fim, Gustavo Scarpa deveria ser mais que um meia habilidoso no Atlético: deveria ser inspiração para um país que ainda acha que personalidade é sinônimo de polêmica, e que só se “está feliz” quando se grita, dança e posta. Às vezes, estar feliz é exatamente o oposto, é estar inteiro, no lugar certo, fazendo o que se ama, sem precisar de aprovação instantânea.
E, convenhamos, inteligência, quando veste a camisa titular, é sempre reforço de peso.