Durante décadas, a cultura de uma empresa foi construída nos corredores, no cafezinho, na troca de olhares durante a reunião, no “vamos conversar depois”. Mas e agora, com a tela como principal canal, a cultura sobrevive? A Folha levantou essa pergunta incômoda: o trabalho remoto estaria matando a cultura das empresas?
A resposta é simples, mas urgente.
De acordo com pesquisa da McKinsey, 68% dos líderes dizem estar preocupados com o enfraquecimento da cultura organizacional após a adoção do home office. Ao mesmo tempo, dados da PwC mostram que 63% dos colaboradores afirmam se sentir mais produtivos e satisfeitos trabalhando de forma remota ou híbrida. Ou seja, temos um impasse: o que funciona individualmente pode não funcionar coletivamente.
E o que parecia ganho de qualidade de vida, em alguns casos, tem custado a perda de identidade, de vínculo, de senso de pertencimento. Mas será que o problema está no modelo remoto ou na forma como tentamos replicar essa cultura em um ambiente novo?
É possível manter uma cultura forte sem presença física constante? Sim — mas isso exige intenção.
Exige traduzir valores em práticas visíveis, criar rituais que atravessem a distância, promover segurança psicológica também por vídeo e, principalmente, lembrar que cultura não é lugar — cultura é comportamento coletivo. O erro está em tentar copiar o escritório físico em forma de Zoom. O acerto está em redesenhar o que une as pessoas, mesmo à distância.
No fim das contas, não é a ausência do presencial que mata a cultura. É a ausência de coerência, de escuta, de clareza sobre o que se espera e o que se constrói junto. O futuro do trabalho não é físico ou remoto — ele é humano. E qualquer cultura que se esqueça disso acaba se esgotando.