Belo Horizonte carrega um fardo: obras que começam, param, somem, reaparecem em discursos, viram promessas de campanha, somem de novo e retornam como placas pálidas em canteiros vazios. Essa coreografia do asfalto e do cimento atrasado não é só capricho: é falta de projeto, erro de licitação, burocracia que engole prazos e política que empurra para amanhã o que se promete para hoje.
Das 22 obras anunciadas em 2024 estão atrasadas, em um pacote de R$ 3 bilhões prometidos pela PBH. 273 obras do Orçamento Participativo seguem paradas, algumas há mais de 20 anos, como no Taquaril e em centros de saúde da periferia.
Mas por que essas obras atrasam tanto?
Porque Belo Horizonte ainda opera em um modelo de projetos mal feitos, licitações frágeis e fiscalização deficiente. Em 66% das obras públicas no Brasil há erros básicos nos projetos. Metade acumula aditivos que encarecem e alongam prazos, sem que ninguém seja responsabilizado de fato, uma realidade inquestionável quando observamos as obras de BH.
Além disso, as empreiteiras jogam no “tapetão” das disputas judiciais. Perdem prazos, alegam reequilíbrio, suspendem contratos. E, sem lei sendo observada, seguem pegando novas obras, mesmo deixando esqueletos de concreto pela cidade.
O PL 134/2025, de autoria do vereador Leonardo Ângelo (Cidadania), em tramitação na Câmara Municipal de BH, determina que qualquer empresa que abandonar ou atrasar uma obra por mais de 60 dias sem justificativa plausível ficará impedida de participar de novas licitações por até dois anos, escancara a realidade do descaso para com a execução das obras e não traz nenhuma novidade, pois tudo o que nele está contido já é previsto na lei das licitações, além do fato de não ser da competência da Câmara Municipal legislar sobre o tema, o que o transforma em inconstitucional.
Belo Horizonte também sofre com a demora em licenciamento ambiental e disputas entre Sudecap e órgãos fiscalizadores. Cada obra exige um ritual de aprovação que pode levar anos, transformando o que era prioridade em projeto esquecido no fundo de uma gaveta.
O problema real não é só dinheiro: é gastar mal o pouco que se tem. BH não é pobre, mas administra mal: paga caro por obras que não terminam, refaz licitações, gasta com correções, paga indenizações em processos judiciais e continua alimentando um ciclo de atraso.
Belo Horizonte precisa de menos placas com rostos sorridentes em “inaugurações” de pedra fundamental e mais placas avisando “obra concluída”. Enquanto isso, a gente segue aqui, desviando de tapumes vazios, esperando por avenidas que não vêm, por postos de saúde que não abrem e pontes que não ligam lugar nenhum. Porque Belo Horizonte não merece virar museu de promessa adiada.