Existe uma lei silenciosa no mundo das marcas: branding não se explica. Se eu precisei abrir um PowerPoint com 30 slides para convencer alguém de que minha marca é criativa, autêntica e inovadora, sinto informar, mas isso não é branding. É marketing — e muitas vezes mal disfarçado.
Como expliquei na coluna anterior, branding não é discurso, é percepção. E percepção não se anuncia: se sente. É aquilo que você entende sem esforço, sem manual de instrução.
Quando uma marca precisa repetir “somos confiáveis”, a confiança já acabou. Branding é quando a experiência e a narrativa da marca falam por si. Pense na Amazon: você não precisa de explicação para entender que a promessa central é conveniência. Ela está em cada clique, no tempo de entrega, no jeito como resolve problemas. Ou no Magazine Luiza: não é só uma rede de varejo, é a combinação de digital com humano, é a persona Lu que aproxima a comunicação e a consistência em mostrar inovação acessível.
Isso é branding: coerência em cada ponto de contato. Marketing é o território da justificativa: mostra benefícios, provas e dados. Ele precisa falar, é estruturado, mensurável, programável.
Quando uma marca precisa de um dossiê ou de um manual para justificar sua relevância, estamos diante de marketing. Ele comunica de forma propositada e direta, convence, mostra resultados, traduz intenções em ação. O branding não se apresenta, é percebido, absorvido e sentido. Constrói capital simbólico, percepção e narrativa antes de qualquer interação consciente. É orgânico, coletivo, influente no imaginário.
Se você precisa explicar o que sua marca é ou representa, esse capital simbólico não existe. Ele depende da racionalização do outro. Essa lógica muda a forma como se pensa o investimento em marca. O teste mais direto de branding não está nos relatórios: está na ausência de explicação. O resto é execução de marketing tentando preencher o vazio da percepção.