No Visão Macro de hoje, vamos falar sobre a evolução da renda no Brasil nos últimos dez anos. Em termos nominais, houve um avanço expressivo de cerca de 80%. Mas, quando olhamos para os níveis reais — ou seja, descontada a inflação — esse crescimento não passa de 2% a 3%.
Isso acontece porque, ao mesmo tempo em que os salários nominais cresceram, o nível geral de preços acompanhou quase na mesma proporção. Essa é a grande distorção que enfrentamos quando priorizamos políticas de curto prazo focadas apenas em estímulo ao consumo, em vez de políticas de crescimento com qualidade baseadas no investimento.
Quando pressionamos apenas o aumento do salário nominal, a demanda cresce, mas sem ganho de produtividade e sem expansão da capacidade de produção. O resultado é simplesmente inflação, e não riqueza real. O fundamental seria ampliar a capacidade produtiva ao longo do tempo, com estratégias de investimento estruturantes.
Por isso, é preciso insistir: salários nominais não importam por si só. O que realmente importa é o quanto eles se convertem em cesta de bens e serviços. Embora a sensação seja de que todos tiveram aumento nos últimos dez anos, na prática não foi assim. Nosso PIB per capita está estagnado desde 2010, reflexo de escolhas equivocadas ao longo desse período.
Vale lembrar momentos em que a inflação superou 10% ao ano, como entre 2014 e 2016 e novamente em 2021, no auge da pandemia. O fato é que, sem ganhos de produtividade, não conseguimos sair do lugar. A renda convertida em bens continua praticamente a mesma. Não se trata de geração de riqueza, mas de uma ilusão nominal.