No Visão Macro de hoje, vamos discutir um pouco mais sobre a dificuldade que os bancos centrais têm enfrentado para convergir as expectativas de inflação para o centro de suas metas. Não é apenas o Banco Central brasileiro que sofre com esse desafio. Além de problemáticas específicas, temos ainda um nível elevado de incerteza e a necessidade de prêmio de risco, resultado de políticas econômicas mal estruturadas e aplicadas de maneira muito mais extremada do que em outros países.
Ainda que outras economias também enfrentem pressões inflacionárias, muitas vezes estimuladas por políticas fiscais expansionistas, a credibilidade de seus bancos centrais atua de forma mais concreta no processo de convergência inflacionária do que ocorre no Brasil.
Um ponto importante dessa discussão é a mudança estrutural de consumo. As economias migraram do foco em bens duráveis e não duráveis para o consumo de serviços. A renda disponível passou a ser direcionada para serviços em vez de bens, o que torna a inflação mais persistente, principalmente por meio dos repasses salariais.
Isso explica por que o índice de serviços subjacentes — ou núcleo de serviços — continua elevado dentro da cesta do IPCA, assim como em outros países. Trata-se de uma transformação de hábitos que torna a inflação mais resistente. Além disso, o deslocamento da renda para serviços impacta também o arranjo industrial, tanto no peso da indústria em si quanto no avanço tecnológico condicionado a essa mudança de comportamento.
Portanto, além da credibilidade da política monetária, é crucial considerar a credibilidade da política fiscal. Enquanto políticas de estímulo ao consumo miram apenas o curto prazo, políticas de crescimento sustentável precisam ser focadas em investimento, produtividade e longo prazo. O Brasil precisa ter a coragem de discutir essas diferenças de forma clara.