Comparar o potencial turístico de Minas Gerais com o da Europa pode parecer, à primeira vista, uma batalha de Davi contra Golias. Mas, como na história bíblica, há nuances surpreendentes, e um estilingue bem afiado, se for bem manejado. A Europa é uma vitrine mundial. Minas é a joia escondida no cofre do Brasil.
Comparar um turismo estruturado como o Europeu, com Minas Gerais, pode parecer um exercício desproporcional, mas não é se pudermos colocar em discussão investimentos que demoram a acontecer, e uma projeção do que o turismo traria para a economia do estado.
Investimentos que fazem a diferença
Enquanto o Velho Continente brilha com seus monumentos centenários, trens de alta velocidade e cifras bilionárias, Minas desliza suavemente nas ladeiras de Ouro Preto, serve café com pão de queijo em varandas de Tiradentes e entrega emoção enquanto outros estados brasileiros entregam folhetos turísticos.
A Europa soma mais de 740 milhões de habitantes espalhados por 50 países, e recebeu em 2024 747 milhões de turistas internacionais, quase um turista para cada habitante. Já Minas Gerais recebeu 32 milhões de turistas em 2024, sendo apenas 42,6 mil estrangeiros.
Na Europa, a arte nasceu nos palácios. Em Minas, sobreviveu nas ladeiras e nas mãos dos escravizados. De um lado, Roma antiga, a Renascença e o Louvre. De outro, Ouro Preto, Congonhas, Sabará, São João del-Rei. O barroco mineiro é nosso Michelangelo mestiço, Aleijadinho, esculpindo fé e resistência com mãos doentes e espírito imortal.
Enquanto a Europa transforma sua história em Euros, Minas ainda negocia sua memória em troca de visibilidade tímida.
A Europa tem os Alpes, os fiordes noruegueses, campos de lavanda e ilhas banhadas pelo Mediterrâneo. Minas tem a Serra da Canastra, as cachoeiras de Carrancas, as grutas de Maquiné, o cerrado, as trilhas e o queijo mais premiado do mundo, uma gastronomia de origem que faz inveja aos mais sofisticados restaurantes do mundo.
Minas apresenta evolução na sua gastronomia, com chefes surpreendentes, criativos e em boa parte cultivando as raízes de um estado que mistura boa prosa com paladares provocantes.
Minas produz vinhos finos, azeites de incrível pureza, sem falar dos cafés especiais.
Na Europa, o menu tem flor comestível. Em Minas, tem afeto no fogão.
A Europa investe pesado em infraestrutura: trens, aeroportos integrados, sinalização multilíngue e marketing global. Já Minas ainda enfrenta seu calcanhar de Aquiles: rodovias esburacadas, pouca sinalização, centros de atendimento turístico escassos. O estado tem vocação de Toscana, mas segue tratado como “roça com montanha”, e mesmo assim cresce.
De janeiro a junho de 2024, o turismo mineiro cresceu 9%, cinco vezes mais que a média nacional (1,3%). O acumulado de 12 meses bateu 11,1%, frente a 3,4% do Brasil. O setor já responde por quase 7% do PIB estadual, e gerou 20 mil empregos formais até outubro.
A Europa é potência consolidada, Minas é um novo entrante, mas com muito potencial. A diferença de escala é abissal: o continente recebe quase 7 mil vezes mais estrangeiros que Minas. Mas os dados mineiros empolgam: em 2024, cresceu mais que o Brasil inteiro, tanto em volume de visitantes quanto em geração de emprego e movimentação econômica.
Minas não precisa competir com a Europa, precisa se entender como um destino singular, com identidade própria, beleza silenciosa e um povo que te trata com carinho antes mesmo de saber seu nome.
Minas não é Paris, nem precisa ser. Minas é o cheiro do café coado, o sino de Mariana às seis da tarde, o trem que passa entre montanhas, o queijo que parece sorrir no prato. Minas é um abraço que não precisa de idioma.
Se o Brasil tratasse Minas com o respeito que trata as praias do Nordeste ou os arranha-céus de São Paulo, o turista europeu é que pediria visto para entrar em Tiradentes.
E talvez, um dia, venha mesmo.