No Visão Macro de hoje, vamos falar um pouco mais sobre como o Brasil pode ser, talvez, um desses vencedores relativos no processo tarifário estipulado pelo governo Trump, que agora, na semana de 9 de julho, volta à tona com bastante força — principalmente pelas poucas negociações que os Estados Unidos atingiram com a grande maioria dos países, somando-se a isso, inclusive, a pronta ameaça do Trump em relação aos BRICS como um todo.
Mas aqui temos que ter um pouco mais de cuidado, dado que o Brasil já é, relativamente, uma economia fechada. Além disso, também temos déficits comerciais com os Estados Unidos — e não o contrário. É exatamente esse ponto, ou seja, aqueles países dos quais os Estados Unidos compram mais do que vendem, que ele vê como problemáticos.
Nesse sentido, vemos o Brasil, de alguma maneira ou de outra, mais protegido — no relativo — muito embora nós também sejamos um dos países que mais instituem tarifas contra os Estados Unidos, algo em torno de 12%. Então, esse nível de 10% que talvez enfrentemos em novas tarifas parece ser uma espécie de reciprocidade, de fato, como o presidente Trump tem dito.
Mas levanto aqui a grande necessidade de que o Brasil faça um esforço para melhorar a qualidade do crescimento econômico, reabrindo cada vez mais a sua economia. E, nesse ponto, gostaria de trazer uma visão mais específica, também de um economista muito relevante para nós: Daniel Glaiser.
Ele relembra, quase como uma lição de história econômica, a nossa tentativa de substituição de importações — aquela ideia cepalina que tivemos nos anos 1960 e 1970 como estratégia de crescimento econômico — e que, no fim, deu errado. O protecionismo deu errado.
E aqui precisamos reavaliar essa escolha e encarar com coragem a necessidade de ampliar a nossa integração comercial internacional. Este é o momento para fazê-lo, dado que todos os outros países estão enfrentando essa mesma problemática imposta por Trump. Esta pode ser uma boa oportunidade para escoar cada vez mais a nossa produção local a bons preços, principalmente considerando a depreciação da nossa moeda em relação a outros países.
Acho que é preciso reforçar: estamos diante de um momento único para impulsionar nossa inserção internacional. A tendência global em direção à descarbonização coloca o país em uma posição estratégica — especialmente por nossas vantagens comparativas em recursos naturais e por termos uma matriz energética limpa.
Também é importante lembrar que empresas brasileiras que se veem restritas a atuar no mercado doméstico, na prática, estão limitadas a 1,5% do PIB mundial — abrindo mão de acesso aos outros 98,5%.
Há muito a ganhar com uma abertura comercial que aumente a possibilidade de consumo da população e permita a absorção de tecnologia de ponta pelas nossas empresas. Isso eleva a produtividade e contribui para o crescimento e a sofisticação da nossa indústria, dos nossos serviços, das nossas exportações e importações — entre outras vantagens.