A polarização política, esse abismo cavado entre cidadãos que deveriam partilhar um mesmo projeto de país, tornou-se mais do que divergência saudável, virou muro. E muro alto, espesso, cheio de arame farpado. O que era para ser debate democrático virou campo de batalha, onde famílias se desfazem em jantares de domingo, amizades são rasgadas em posts de redes sociais e a confiança mínima necessária para conviver se esfarela em ressentimento.
O dano imediato é visível, relações pessoais e profissionais fragilizadas, intolerância no lugar do diálogo, rótulos substituindo argumentos. Mas o estrago maior é silencioso e de longo prazo: a incapacidade de construir consensos mínimos em torno de um projeto nacional. Uma nação não nasce apenas de PIB ou de território delimitado; ela se sustenta sobre laços de confiança, sobre a crença de que o outro, mesmo discordando, não é inimigo.
O trágico resultado
Quando a polarização se radicaliza, o que sobra é o “nós contra eles”. E uma sociedade dividida nesses termos não se organiza para crescer, apenas para resistir. O resultado? Paralisia política, instabilidade econômica, desconfiança internacional. O Brasil, que já enfrenta desafios gigantescos em infraestrutura, educação e competitividade, ainda carrega nos ombros a fadiga de uma guerra cultural sem fim.
O prejuízo é coletivo. Em vez de somar talentos, desperdiçamos energia em brigas estéreis. Em vez de reconhecer diferenças como riqueza, tratamos a diversidade como ameaça. A nação, que deveria ser projeto comum, se fragmenta em arquipélagos de ressentimento.
A lição é dura, mas necessária: nenhum país se constrói sobre trincheiras. É preciso reabilitar a palavra diálogo, devolver ao dissenso o papel de ferramenta de aprendizado e resgatar a ideia simples, mas poderosa, de que um adversário político não é um inimigo a ser destruído, mas um cidadão a ser ouvido.
O futuro do Brasil não será escrito por uma metade contra a outra, mas por todos nós, juntos, com todas as nossas diferenças. Enquanto não entendermos isso, a nação seguirá inacabada, refém do próprio rancor.