No Visão Macro de hoje, vamos falar sobre a importância da reforma administrativa, que pode ganhar mais espaço no debate público mesmo diante da antecipação do processo eleitoral. Essa antecipação é nociva porque desvia a atenção de temas centrais para o país, como a própria reforma administrativa.
Esse processo conta, inclusive, com a contribuição do economista Bruno Carazza, autor do livro O País dos Privilégios, já citado aqui em outras ocasiões. A obra traz dados que evidenciam o impacto econômico dos privilégios do funcionalismo público, que poderiam ser limitados para melhorar o equilíbrio fiscal e reduzir as distorções entre salários do setor público e do setor privado.
Do ponto de vista microeconômico, é importante lembrar que salários refletem o valor do produto marginal do trabalho, ou seja, estão diretamente ligados à produtividade de cada profissional em relação às suas entregas. Por isso, a grande discussão não deve se restringir a salários ou concursos públicos, mas sim a como medir de forma concreta a produtividade ao longo do tempo e alinhar metas e métricas de desempenho dentro do setor público.
Os números impressionam. Apenas com pagamentos acima do teto salarial no Judiciário, estima-se um gasto anual de R$ 12 bilhões. Esse dado mostra a urgência de se discutir, de forma aberta, como reverter privilégios que distorcem não apenas o equilíbrio fiscal, mas também a escolha entre carreiras públicas e privadas — sempre tendo a produtividade como norte.
A reforma administrativa também reforça a necessidade de olharmos para indicadores como PIB por trabalhador, e não apenas PIB per capita. Como lembra o economista Marcos Lisboa, trata-se de uma reforma que incide diretamente sobre a produtividade e, portanto, sobre o crescimento econômico de qualidade.
É fundamental que esse debate ocorra sem vieses ideológicos ou a lógica de “nós contra eles”. Só assim poderemos avançar em pautas estruturais e estratégicas para o futuro do país.