Tomem cuidado, porque sempre tem alguém que entende a sua língua. Eu venho de uma família de telegrafistas. Meu pai foi telegrafista de nível internacional e, antes dele, o pai dele, meu avô. Na família, todo mundo entende um pouquinho de código Morse. Quando a gente saía de carro de Brasília e chegava a Belo Horizonte, assim que entrávamos na rua que levava ao prédio do meu avô, meu pai já se anunciava na buzina: pam, pam.
Eram as letras MGS, que, em código Morse, funcionavam como uma abreviatura de Magalhães. O código Morse virou uma linguagem cifrada que a gente usava para trocar informações sem que as visitas percebessem. Já deu para ver que o pessoal era educado, né? Pois é, mas isso pode ser perigoso, e tem um caso muito interessante envolvendo o La Martini Babbo, cantor e compositor das décadas de 1940 e 1950. Consta que, certa vez, ele foi aos Correios passar um telegrama. O La Martini tinha uma aparência, digamos assim, incomum.
Não correspondia exatamente ao padrão de beleza da época. Enquanto esperava ser atendido, ouviu um dos telegrafistas de plantão batucar na mesa para o colega: “magro, feio e de voz fina.” O Martini não se fez de rogado, puxou imediatamente a caneta e bateu na mesa também: “magro, feio, voz fina e telegrafista.” Curtiu a história?