Apesar da rotina intensa e dos desafios diários, algumas experiências mostram que é possível transformar o ambiente escolar em um espaço de acolhimento. Em diversas escolas, metodologias participativas e práticas de escuta ativa têm ajudado professores a reencontrar a motivação e o prazer de ensinar, como exemplifica a professora Juliana Elfraze, da rede municipal de Belo Horizonte. Para ela, a sala de aula é o seu maior propósito.
“Tem uma blusa que eu gosto muito, que eu ganhei uma vez enquanto professora, que está escrito assim: ‘Eu ensino, e qual é o seu superpoder?’ Eu acho que ensinar é um superpoder.” Juliana compartilha com entusiasmo. “É o que nos motiva. Aquele olhar de ‘aprendi, entendi’… Nada disso paga. Isso me move. Ser formadora de opinião, conseguir levar para o outro, mesmo que não seja aqui, a gente começa pequenininho, mas tem que começar na educação infantil.”
Esse sentimento de propósito é o que mantém muitos educadores de pé, mesmo com os desafios enfrentados dentro e fora da sala de aula. A professora Juliana acredita que o professor possui o poder de “colocar uma sementinha dentro de cada criança.” Mas essa força, que vem do propósito, ganha ainda mais sentido quando a escola oferece um ambiente acolhedor. Para a psicóloga Isabela Coura, o diálogo e a escuta ativa são essenciais para fortalecer o vínculo entre professores e gestão escolar, além de reduzir o estresse.
“O fundamental é manter um diálogo muito próximo com os professores. Entender o que está acontecendo em sala, fazer pesquisas recorrentes de clima, e identificar quais são os principais desafios que os professores estão vivendo. É manter uma escuta genuína e, mais importante, agir para construir soluções em parceria.” diz Isabela. “Isso precisa ser uma iniciativa não só das escolas, mas também do sistema de ensino como um todo. O governo deve entender que cuidar da saúde mental dos professores é cuidar da qualidade do ensino.”
Em relação à valorização dos professores, o estudo internacional Talis 2024, da OCDE, aponta que apenas 14% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, um número abaixo da média global de 22%. Essa desvalorização pode contribuir para o estresse e o esgotamento dos profissionais. Contudo, algumas iniciativas estão sendo implementadas para reverter esse cenário.

(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
O programa Minas com Todos, do Governo de Minas, vai promover palestras sobre inclusão e saúde mental em mais de 3.400 escolas da rede estadual, com o objetivo de criar ambientes mais saudáveis e prevenir o adoecimento dos educadores.
Na capital mineira, a EMEI Padre Tarcísio, localizada na região da Serra, tem adotado ações de acolhimento inspiradas no Setembro Amarelo, com rodas de conversa e um mural da vida, destacando a importância de cuidar de quem cuida. A diretora da escola, Fabiane Barbosa, explica como o apoio emocional contínuo é crucial para os professores: “A profissão realmente exige muito de nós. Você sai da escola, mas a escola não sai de você.” Fabiane compartilha que muitas vezes os professores ficam pensando sobre o que poderia ter sido feito de diferente com os alunos, e isso acaba gerando um estresse constante. “Eu já passei por isso, agora na direção, querendo fazer muita coisa, mas a gente enfrenta barreiras que dificultam a realização de um trabalho diferenciado. Isso gera um estresse muito grande.”
Apesar das dificuldades, o que mantém o professor motivado é a certeza de que vale a pena. Para Juliana Elfraze, o primeiro passo para reverter o cenário de exaustão dos educadores é investir em formação contínua e em apoio psicológico. Ela destaca a importância de oferecer o suporte necessário para que os professores possam ensinar com mais propósito e menos sobrecarga.
“Precisamos de investimento, principalmente em formação para os professores. Às vezes, queremos fazer muita coisa, mas não sabemos por onde começar. Precisamos de tempo para a formação, ter materiais acessíveis, apoio psicológico e o suporte para não levar todo o trabalho para casa.” diz Juliana.
Ensinar com propósito também significa cuidar de quem ensina. Valorizar o professor é investir no futuro da educação, garantindo que o ensino seja visto como uma fonte de realização, e não de exaustão.
*João Bedran com supervisão de Caio Tárcia