Há encontros diplomáticos que se limitam à formalidade da foto, e há aqueles que transbordam expectativa. A reunião entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva promete ser da segunda categoria. Não é apenas o protocolo que os aproxima, mas uma curiosa convergência de necessidades políticas, cada um buscando, no outro, um instrumento para reforçar sua própria narrativa.
Os dois lados e suas realidades
Do lado brasileiro, Lula chega com um cenário ambíguo. O Planalto pode até comemorar os números macroeconômicos: inflação sob controle, crescimento dentro do esperado e reservas sólidas. Mas a economia do “arroz com feijão” não anda no mesmo ritmo. No bolso do consumidor, o poder de compra encolhe, os preços do mercado ainda assustam e a sensação de bem-estar não acompanha os gráficos otimistas. Para piorar, o relacionamento com o Congresso atravessa turbulências: negociações emperradas, aliados desconfiados e uma oposição que fareja oportunidades. A popularidade de Lula, que havia se recuperado com o tarifaço norte-americano contra o Brasil, transformado em retórica nacionalista, dá sinais de estagnação, e ayté de declínio. O encontro com Trump, portanto, é chance de projetar liderança internacional e tentar reverter a apatia doméstica.
Trump, por sua vez, vive outro tipo de fogo. No front interno, enfrenta protestos que desafiam sua autoridade e testam sua capacidade de conter a rua sem parecer autocrata. Na política externa, carrega uma promessa de campanha que ainda não cumpriu: pacificar o conflito entre Israel e Palestina. E, dentro da própria economia americana, há pressões cada vez mais fortes de empresários e consumidores para aliviar o peso das tarifas sobre produtos brasileiros. Em outras palavras: ele precisa mostrar firmeza, mas também flexibilidade.
O que esperar do encontro?
O cardápio do encontro é claro: tarifas, comércio, geopolítica. Mas o tempero será político. Trump deve medir até onde pode ir no alívio tarifário sem parecer frágil em casa. Lula, por sua vez, tentará arrancar concessões que aliviem setores exportadores brasileiros, em especial o agro, e que lhe deem munição para reforçar o discurso de protetor da economia popular.
Mais do que acordos concretos, o encontro será um palco simbólico. Para Lula, a foto ao lado de Trump ajuda a manter sua imagem de estadista global, capaz de dialogar até com figuras ideologicamente distantes. Para Trump, apertar a mão de Lula é sinal de que continua ditando as regras da mesa internacional, mesmo em meio a crises domésticas.
Se haverá avanços práticos, só o tempo dirá. O provável, no entanto, é que ambos saiam do encontro com ganhos imediatos de narrativa: Lula pode vender otimismo e diálogo, Trump pode posar de negociador implacável. A “química” exibida na ONU pode até se repetir, mas o que realmente se decidirá é quem melhor transforma o simbolismo em capital político.
Um encontro de dois líderes que, mais do que se aproximar por afinidades, se unem por conveniência, cada qual tentando arrancar do outro o que mais precisa. Sobreviver.