Mamonas Assassinas 30 anos: as origens do grupo que conquistou o Brasil

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Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Sérgio e Samuel Reoli colocaram seu talento à disposição da banda Utopia e mais tarde no sucesso Mamonas Assassinas (Divulgação: Redes Sociais)

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O ano de 1995 começou com um novo presidente: Fernando Henrique Cardoso. Procurávamos um novo ídolo na Fórmula 1 depois da morte de Ayrton Senna. Iniciávamos o ciclo da Copa do Mundo de 1998 após ser tetra em 1994, entre muitos outros fatos.

Em Guarulhos, cinco rapazes tentaram fazer sucesso com um rock que revisitava os anos 1980. Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Sérgio e Samuel Reoli colocaram seu talento à disposição da banda Utopia. A partir da formação do grupo, em 1989, com a formação sendo composta no começo dos anos 1990, tocaram em festivais, fizeram shows em quermesses, comícios eleitorais, festas e até gravaram um disco.

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Quem gravou o disco da banda Utopia, em 1992, foi Rick Bonadio, que já tinha seu estúdio próprio. Rick gravava jingles, vinhetas para rádios e produzia artistas que o procuravam a partir do jornal “Primeira Mão”, onde ele anunciava a disponibilidade da Bonadio Produções. Se os artistas que procuravam Rick não sabiam tocar ou precisavam encorpar uma música, o produtor entrava em estúdio e tocava todos os instrumentos necessários e entregava o material pedido.

Reprodução: Redes Sociais da banda Mamonas Assassinas

A proposta da banda Utopia era um rock já reproduzido por grupos como Legião Urbana e Capital Inicial. Os rapazes beberam na fonte dos anos 1980 e quiseram levar à frente aquele modelo musical, que já não era tão vendável, mas que eles acreditavam que um dia retornaria ao topo das paradas de sucesso.

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O LP Utopia teve uma tiragem inicial de apenas mil cópias, mas beirou as 100 unidades vendidas. A realidade era uma só: eles sonhavam em viver de música, ficar famosos como seus ídolos, mas só ficaram conhecidos no Parque Cecap, um condomínio com vários prédios da cidade onde moravam, e na boate Lua Nua, onde tocavam frequentemente.

Contudo, a gravação do LP e a convivência entre os rapazes geraram uma amizade. Dinho colocava voz nas produções de Rick Bonadio e até ajudava na captação de novos artistas para serem produzidos pela Bonadio Produções. Os demais integrantes também visitavam a Bonadio Produções e ajudavam o produtor.

Reprodução: Redes Sociais da banda Mamonas Assassinas

Até que um dia, Dinho e os rapazes do Utopia foram até a Bonadio Produções para gravar umas músicas engraçadas para um churrasco. Rodrigo Castanho, que trabalhava com Rick, foi quem operou e gravou os fonogramas. O estúdio foi utilizado durante a madrugada, e as canções gravadas foram “Mina”, que viria a ser “Pelados em Santos” e “Robocop Gay”.

No dia seguinte, Bonadio foi até seu estúdio e, motivado pelas palavras de Castanho, que rolou de rir das canções, ouviu o material gravado por Dinho. Rick chamou o vocalista e os rapazes para conversar e o papo aconteceu na cozinha da casa onde funcionava o estúdio. Aquela fita agradou muito ao produtor, que apostou naquela mistura de rock com o brega, pagode, sertanejo e baião, agregada a uma dose pesada de humor sem qualquer pudor. Rick foi enfático: se misturar rock com o humor, ele conseguiria uma gravadora para eles.

“O impossível não existe. Acreditem, vocês têm força…”

O subtítulo acima é um trecho falado a plenos pulmões por Dinho, quando a banda tocou no Ginásio Paschoal Thomeu, o Thomeuzão, em Guarulhos, no dia 6 de janeiro de 1996. Tais palavras, cheias de emoção e fúria, sintetizaram tudo o que a banda passou para chegar ao sucesso, desde os portões fechados, a falta de oportunidades — inclusive no Thomeuzão — até o sucesso mais do que consagrado.

A partir da gravação das músicas bem-humoradas de Dinho até a construção do caminho para gravar um disco, o tempo foi relativamente curto, mas os Mamonas conseguiram o que queriam. Mudada a proposta, os ex-integrantes da banda Utopia gravaram uma fita demo e precisavam mudar de nome. Segundo Rick, quem sugeriu “Mamonas Assassinas do Espaço” foi Samuel. Foi só tirar o “do Espaço” que o novo nome agradou a todos.

Após gravar uma fita com algumas músicas, dentre elas: “Pelados em Santos”, “Vira-Vira”, “Jumento Celestino” e “Robocop Gay”, Rick Bonadio conversou com Arnaldo Saccomani, produtor artístico de grande reconhecimento, e que já tinha sido diretor e locutor da Jovem Pan. Saccomani gostou do que ouviu e ajudou na divulgação com as gravadoras, pois tinha grande nome nas empresas por ter produzido vários artistas, como Tim Maia, Fábio Jr, entre outros.

“Money, que é good e nós num have…”. A fita demo que quase não foi aceita

Em entrevista à Jovem Pan, em 2014, Arnaldo Saccomani revelou que mandou a fita demo dos Mamonas Assassinas para algumas gravadoras. A primeira gravadora mencionada pelo produtor foi a Paradoxx, que, segundo Saccomani, “ouviu 30 segundos da fita demo e me disseram que não havia tempo para perder”, recusando o material.

A Sony foi outra gravadora que também foi procurada pelo produtor. Jorge Davidson, então diretor artístico da empresa, escutou e não gostou. Embora recebesse a recusa de Davidson, Arnaldo Saccomani relembrou uma atitude honesta do diretor:

“O Jorge Davidson teve uma atitude muito honesta. Na hora que os Mamonas estouraram, e eu [Saccomani] trabalhava muito com ele na Sony, o presidente da gravadora mandou um e-mail para o Jorge dizendo que o ‘seu amigo’ Saccomani havia dado os Mamonas para a EMI. Davidson confessou ao mandatário principal da Sony que recebeu a fita demo e não gostou”, disse Saccomani à Jovem Pan.

A EMI, do diretor artístico João Augusto, foi mais uma gravadora que respondeu a Arnaldo Saccomani. E existem duas histórias a respeito da aceitação da fita demo. A primeira, e a mais contada, foi que João quase cometeu o mesmo erro das duas primeiras empresas. Contudo, graças ao filho, Rafael Ramos, que escutou a fita à exaustão com os amigos e na escola, decidiu apostar nos Mamonas devido à alta receptividade por parte de Rafael e seus colegas. Outro fato é que um colega de Rafael teria dito a João, que se não contratassem os Mamonas, repetiria o mesmo equívoco, pois não havia fechado contrato com os Raimundos, anos antes.

De acordo com Rick Bonadio, que escreveu em sua biografia assinada por ele e o escritor Luiz César Pimentel, a história tem outra versão.

Desde o primeiro momento em que nos encontramos na gravadora, por meio do diretor artístico, foi proposto um pré-contrato”, disse Bonadio. Rick ainda acrescentou que, anos depois, Aloísio Reis, que era vice-presidente de marketing da EMI na época, disse que “João colocou o filho Rafael na história, porque o lance todo dos Mamonas era tão bizarro e ele, João, era tão hesitante, que se desse errado iriam cair matando em cima dele. Ele, afinal de contas, como diretor artístico, tinha o trabalho de dizer o que era bom e o que não era para a gravadora. Com essa versão, ele dividiu a responsabilidade com os amigos do Rafael”.

Reprodução: Redes Sociais da banda Mamonas Assassinas

Versões contadas à parte, João Augusto quis ver um show da rapaziada para saber se os Mamonas Assassinas tocavam de verdade. O palco foi a boate Lua Nua, onde os cinco entraram apenas de cueca, com o LP à frente cobrindo a região pubiana, sendo que Bento, o japonês da banda, usava um LP compacto simples. A casa ficou lotada, o show foi maravilhoso e os cinco rapazes, mais o produtor Rick, conseguiram impressionar o diretor artístico da EMI.

Outra estratégia adotada por Rick Bonadio foi revelada pelo produtor no podcast Inteligência LTDA. De acordo com Rick, ele contratou uma assessora para tentar colocar os rapazes na TV ou tocar alguma música dos Mamonas Assassinas em uma rádio. A estratégia deu certo, tanto que os rapazes foram convidados a darem uma entrevista no programa “Jô Soares Onze e Meia”, no SBT, no dia 9 de maio de 1995. Vestidos de Chapolin, a presença dos rapazes causou risadas em Jô Soares, no sexteto, principalmente em Bira, que participou da encenação de Dinho na música “Robocop Gay”. A plateia também reagiu com muitos risos.

Uma coisa é certa: naquela época não existia rede social, edição de arquivo MP3, MP4, postar no YouTube ou qualquer outra plataforma. Era tudo feito na cara e na coragem, muito trabalho, precisava ter talento e, o mais importante, tinha que passar pelo crivo rigoroso das gravadoras.

“Atenção, Cruzebeck, ao toque de quatro já vai…”

Com apenas “Pelados em Santos”, “Robocop Gay”, “Vira-Vira” e “Jumento Celestino” compostas pela banda, a hora era de compor mais músicas. Enquanto algumas sessões eram gravadas no estúdio, Dinho e Júlio faziam a composição de novas canções. De todas as faixas do disco, apenas duas não tiveram a assinatura de algum integrante da banda. “Sábado de Sol” era do grupo Baba Cósmica, que tinha como baterista Rafael Ramos, filho do diretor João Augusto, que assinou o contrato com os Mamonas, e “Sabão Crá Crá”.

Além dos cinco integrantes da banda, outros músicos colaboraram na gravação do LP. Leandro Lehart, à época membro do grupo Art Popular, tocou cavaco. César do Acordeom deixou a marca dele em “Jumento Celestino”. Ambos eram amigos de Rick Bonadio. O renomado Paquito colocou metais em “Pelados em Santos”.

Gravado o disco, a mixagem foi feita em Los Angeles, com João Augusto levando os integrantes da banda para a terra do Tio Sam. Os rapazes aprontaram todas, se divertiram e viram o trabalho ser mixado e finalizado.

A capa do disco é uma das mais icônicas da história da música brasileira. A partir da ideia do nome Mamonas Assassinas, que remete a uma fruta colhida em matagais, os rapazes ficaram no rodapé da capa com suas fotos alinhadas em desenhos. Dominando todo o material, uma mulher com seios enormes usando um colar com o logo do grupo, que fazia referência à montadora Volkswagen. A pessoa homenageada é a modelo Mari Alexandre, que fazia muito sucesso e de quem todos do grupo eram fãs.

Reprodução: Redes Sociais da banda Mamonas Assassinas

Foi tudo muito rápido. O show na boate Lua Nua aconteceu em abril. A gravação ocorreu em maio. E o disco foi lançado oficialmente em 23 de junho de 1995. De acordo com o baixista Samuel Reoli, em gravação reproduzida no documentário “Mamonas para Sempre”, a tiragem inicial seria de 50 mil cópias.

Lançado o disco, a primeira rádio que tocou os Mamonas Assassinas foi a 89 FM, de São Paulo. “Vira-Vira”, que foi a primeira música de trabalho, não demorou a se tornar a mais pedida da programação. Naquela época, para ouvir a música favorita, tinha que ligar para o telefone da rádio, pedir e torcer para que ela entrasse na grade. Bons tempos!

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Vinícius Silveira

Jornalista e Radialista com 12 anos de carreira, sendo produtor, repórter e apresentador pela Rádio 98 FM desde 2018. Formado em jornalismo pela faculdade UNI-BH, e com passagens por outras emissoras de rádio e jornais.

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