Reconhecida como uma das maiores guardiãs da gastronomia mineira, Maria Lúcia Clementino Nunes, a Dona Lucinha, transformou sua paixão pela cozinha em um verdadeiro legado cultural. Além do seu enorme talento e domínio das técnicas culinárias, Lucinha também era dona de uma generosidade rara, já que ela nunca fez questão de manter em segredo os saberes que herdou e aprimorou ao longo da vida.
Prova disso é um manuscrito com preciosas dicas da cozinha de Lucinha. A família encontrou o registro em meio aos pertences da matriarca. No papel, escrito à mão, a cozinheira teve a delicadeza de registrar alguns dos seus truques para que pudessem ser passados à diante.
“A todo momento que encontro um recorte do jornal, ou algum outro registro dela, eu continuo, seis anos após a morte, me surpreendendo com as coisas dela. Ela se tornou mulher quase inesgotável, a todo momento ela me surpreende, e olha que eu achava que conhecia tudo dela”, comentou Marcia Clementino, filha dela.
Entre as dicas, estão o manuseio de sal nas receitas, o amor como ingrediente principal de cada prato e a importância de envolver as crianças no dia a dia da cozinha.

(Arquivo pessoal)
“Vale ressaltar a relevância destas dicas: em um tempo em que o costume era registrar as mais gostosas, ou sofisticadas receitas, mamãe se preocupava em fazer registros, pode-se dizer, de princípios éticos da cozinha, como usar ‘amor na panela’ ou despertar, nas crianças, o aprendizado da arte culinária”, diz a filha.
Lucinha foi fundadora de quatro restaurantes, com unidades em Belo Horizonte e em São Paulo. Enquanto administrava os negócios e tomava conta da família, cada vez maior, ela decidiu publicar um livro com as principais receitas que fizeram parte da sua história com a cozinha, tornando ainda mais acessíveis os seus saberes.
“Minha mãe se superou! Achei ela fazendo um desenho da evolução dos fogões de Minas Gerais ao longo do tempo. Ela queria muito mais que apenas um livro de receitas”, conta a filha dela.
Dicas de Dona Lucinha
1. O primeiro ingrediente que se põe no prato é o amor.
2. O uso do sal em “pitadas” deve ser praticado por razões de saúde e por motivos históricos: era caro e difícil a sua chegada às regiões das Minas.
3. Caldo de limão ou uma boa dose de cachaça são excepcionais para limpar, aliviar e retirar os excessos de gordura das carnes.
4. O mesmo água sem sal e boa fervura para os suculentos caldos das carnes e paços empapados.
5. Sempre que possível, não despreze as cascas das frutas, dos legumes ou suas sementes. Sendo bem higienizadas antes de qualquer uso, com elas pode-se amaciar carnes, fazer sucos, decorar pratos e tornar os alimentos com maior poder de nutrição.
6. É muito importante possibilitar às crianças o aprendizado da arte culinária. Leve-as para a cozinha com você!
Lucinha
Serro, 21 de agosto de 1988
