Donald Trump voltou a agitar o mercado ao pedir que a China quadruplicasse suas compras de soja nos Estados Unidos. Frase que, sozinha, já puxou os futuros de soja em Chicago para cima. É um recado político com efeito imediato nos preços, mas pouco prático diante da realidade logística e do porte de comércio mundial.
Em 2024, a China importou cerca de 105 milhões de toneladas de soja, e o Brasil respondeu por aproximadamente 75 milhões de toneladas desse total. Isto é, próximo de 71% das compras chinesas. Esses números mostram que, hoje, a dependência chinesa do fornecedor brasileiro é muito maior do que a do fornecedor norte-americano, que representa, aproximadamente, 20% das importações de soja pela China.
O que Trump pede, na prática, implicaria um grande desvio de comércio. Se Pequim comprasse muito mais dos Estados Unidos, teria que reduzir aquisições de outros lugares, especialmente no Brasil, ou aumentar importações totais para além do que demanda e da capacidade de armazenagem. Para os Estados Unidos, isso seria uma pressão de curto prazo favorável. Para a China, uma solução improvável e custosa. Para o Brasil, pode significar ajustes de rotas e de preços.
O fenômeno que os economistas chamam de desvio de comércio ajuda a entender o cenário. Se a China for obrigada a comprar mais dos Estados Unidos, reduzirá a demanda por produto brasileiro, que, por sua vez, deverá buscar novos compradores. Em um mercado globalizado, a soja brasileira tende a encontrar outros destinos, aproveitando sua vantagem competitiva e relevância no cenário mundial. Esse tipo de rearranjo global não acontece da noite para o dia, e a reação do Brasil precisa ser estratégica.
Manter a competitividade passa por ganho de produtividade e pela adoção de tecnologias agrícolas que garantam baixo custo e qualidade constante, que sustentam nossa posição como principal fornecedor mundial. Em economia, não existe alquimia. Aumentar vendas ou preservar mercados exige eficiência, inovação e capacidade de adaptação. Tarifas, pressões diplomáticas e barreiras podem alterar fluxos temporariamente, mas não criam competitividade real.
No caso da soja, quem investe na produção e garante a qualidade consistente mantém a liderança no longo prazo. Manter essa vantagem exige políticas consistentes e não apenas aproveitar janelas conjunturais.