Brasil fora do mapa da fome: o desafio agora é não voltar

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Programas de combate à fome e incentivo à produção local, quando bem estruturados, tem um impacto orçamentário relativamente baixo em comparação a outras despesas públicas (Foto: Freepik).

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O Brasil saiu do mapa da fome da ONU com índice de risco abaixo de 2,5% e essa queda é fruto de uma combinação de políticas públicas como Bolsa Família, o programa de aquisição de alimentos e a articulação do plano Brasil Sem Fome. Mas apesar desses avanços, o país ainda não tem uma política sustentável e clara para manter esse progresso no longo prazo. O maior desafio agora é garantir que esses ganhos não retrocedam.

Um ponto central é a falta de planejamento estratégico e de institucionalização de políticas de combate à fome. Ainda que medidas pontuais tenham funcionado, sobretudo no resgate da segurança alimentar, elas carecem de continuidade de sistemas sólidos de implementação e avaliação. Sem essa base, o risco de novos ciclos de segurança alimentar permanece elevado. A agricultura familiar e o sistema de alimentação agrícola tem papel essencial nesse contexto.

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O programa de aquisição de alimentos, por exemplo, tem um grande potencial para promover compras públicas que garantam renda aos pequenos produtores e alimentos de qualidade à população, mas ele depende do orçamento consistente e foco na execução, o que nem sempre ocorre diante de prioridades orçamentárias momentâneas. O custo fiscal dessas políticas não é em si o maior problema.

Programas de combate à fome e incentivo à produção local, quando bem estruturados, tem um impacto orçamentário relativamente baixo em comparação a outras despesas públicas. O desafio está em evitar a dispersão dos recursos e assegurar que cada real gasto seja convertido em benefício direto à população vulnerável. Para isso, a focalização é fundamental. É preciso identificar com precisão as famílias em situação de insegurança alimentar, priorizar regiões mais afetadas e integrar programas sociais com ações de desenvolvimento local.

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Dessa forma, evitamos desperdício e maximizamos o impacto das políticas públicas, garantido que os recursos limitados sejam aplicados onde realmente fazem a diferença. A verdadeira sustentabilidade contra Outra fome exige algo além do plano emergencial, requer política de estado com clareza de objetivos, financiamento próprio e articulação com a sociedade civil e universidades.

É preciso aprender com medidas bem-sucedidas, documentar seus resultados e exigir de gestores públicos continuidade e transparência para evitar que o país volte ao mapa da fome no futuro. Em economia não existe alquimia, erradicar a fome é uma conquista real, mas mantê-la exige política organizada, previsibilidade e compromisso institucional, não apenas boa vontade no momento de crise.

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Izak Carlos

É economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Formado em economia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com MBA em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas, mestrado e doutorado em economia aplicada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), já atuou como economista, especialista e consultor econômico da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Izak também é sócio-diretor da Axion Macrofinance e Especialista do Instituto Millenium.

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