Você já ouviu falar em currículo oculto? Oculto sim, mas nem de longe invisível e muito menos irrelevante. Estamos falando de algo profundamente significativo no processo educativo, uma camada de aprendizado que não aparece nas apostilas e não está no plano de aula, mas que forma e muito a nossa cidadania, empatia e os laços que construímos um com o outro.
Você provavelmente guarda em alguma gaveta da sua memória, uma lembrança da escola que não tem nada a ver com a matéria em si. É o frio na barriga no primeiro dia de aula, a tensão na hora da prova, as amizades que pareciam eternas, as brincadeiras no pátio. Tudo isso é currículo oculto. É o aprendizado que acontece nos intervalos do ensino formal, nas entrelinhas, mas que influencia profundamente quem a gente é, como a gente age e como a gente se relaciona com o mundo.
Esse currículo é feito de valores, normas, atitudes comportamentos, e ele acontece assim, nos gestos, nos silêncios, na forma como se lida com os erros, com a diversidade, com a autoridade e com outro, pode reforçar a autonomia, escuta, cooperação ou pode gerar nexo de exclusão ou a competição vazia. E o mais preocupante, em tempos de obsessão por resultados, métricas e conteúdos programáticos, temos deixado o currículo oculto de lado, ou pior, entregue ao acaso.
Quando não deixamos ou cuidamos dos aspectos invisíveis da educação, também podemos contribuir para que uma formação integral dos nossos jovens sejam deficitárias. E tudo isso é um preço. Jovens mais ansiosos, menos empáticos, com dificuldade de convivência e de trabalho em grupo. Então, é urgente que as escolas reconheçam o valor desse currículo. E que as famílias e educadores apoiem os espaços onde as crianças e adolescentes possam pensar, decidir, conviver, errar, refletir e aprender.
Porque essa liberdade, quando ela é bem orientada, é uma potência formativa. No fim das contas, educar também aquilo que a gente não diz. O currículo oculto não é um detalhe da educação, ele é a sua alma.