Com a perspectiva de redução dos recursos provenientes da mineração nos próximos anos, Itabira, no Vale do Aço, começa a desenhar novos caminhos para sua economia. O município de cerca de 115 mil habitantes pretende criar um ecodistrito industrial, que deve atrair empresas, ampliar a base de empregos e consolidar a cidade como polo de capital humano.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Leonardo Guerra, a iniciativa nasce da necessidade de planejar alternativas diante da queda na produção mineral. Ele falou sobre o assunto em entrevista à 98 News nesta segunda-feira (1º/9).
“Essa é a principal preocupação do itabirano. Itabira foi o maior polo exportador de minério do Brasil durante anos. Em 2010 exportava 70 milhões de toneladas por ano e hoje são 23 milhões. O emprego formal ligado à Vale caiu de 11 mil em 2010 para cerca de 4 mil atualmente. É preciso criar alternativas concretas para a superação da mineração.”
O projeto do ecodistrito
A área escolhida fica na Fazenda Palestina, com previsão de 32 lotes de 10 mil m² e três lotes de 30 mil m². “Estamos projetando uma primeira fase com 1.200 empregos diretos, podendo chegar a até 10 mil com o conjunto de indústrias. A ideia é potencializar o que já existe e também criar coisas novas”, afirma o secretário.
O município aposta no diferencial da formação de mão de obra qualificada. “Itabira foi reconhecida como polo de capital humano, atrás apenas de Belo Horizonte em formação de recursos qualificados. Temos convênios com o Senai, cursos de programação que já certificaram mais de mil jovens e um curso de medicina em andamento, além da Unifei com 1.600 engenheiros em formação. Esse capital humano é um grande diferencial para atrair empresas.”
Pesquisa e inovação
O plano prevê ainda integrar o município a redes nacionais de pesquisa. “Estamos criando um centro de pesquisa em valoração de rejeitos de mineração, ligados à engenharia química e novos materiais. A ideia é transformar rejeitos em insumos da construção civil e outros usos nobres. Isso aumenta o valor agregado, que sempre foi o caminho do desenvolvimento econômico.”
Setores visados
Além da mineração e seus serviços associados, o ecodistrito deve atrair empresas de alimentos, metalurgia, têxtil, tecnologia e inteligência artificial. “Com a automação industrial, a demanda por profissionais se sofisticou. É esse perfil que queremos preparar em Itabira: mão de obra capaz de lidar com equipamentos autônomos, IoT e manutenção de alto nível.”
Logística e prazos
O secretário reconhece que a logística é um desafio, mas aponta avanços com a concessão da BR-381. “O trecho entre Sabará e Caeté já apresenta melhoria de manutenção e há expectativa de duplicação. Precisamos avançar também nas rodovias estaduais para garantir fluxo de cargas e pessoas. Minas é um estado de dimensões continentais, e logística é sempre o grande gargalo.”
O prazo para ver a primeira empresa instalada ainda depende de licenciamento. “O estudo ambiental leva cerca de um ano, precisa contemplar períodos de chuva e seca. Com terraplanagem e licença de implantação, falamos em algo entre o meio e o fim de 2027. Parece longo, mas para investimentos bilionários é factível. E para a vida de Itabira, é pouco tempo.”