Hoje trazemos uma reflexão sobre a perda de Kongjian Yu, referência mundial no urbanismo ecológico, que faleceu tragicamente em um acidente aéreo. Sua obra, no entanto, permanece viva e inspiradora, desafiando-nos a pensar em como transformar as cidades em espaços resilientes, sustentáveis e preparados para as mudanças climáticas.
Yu foi o criador do conceito de cidade esponja, modelo que propõe transformar áreas urbanas em sistemas capazes de absorver, reter e reutilizar a água da chuva, em vez de simplesmente expulsá-la. Em entrevista recente, ele destacou que a transformação de uma cidade nesse modelo não é utopia: pode ser feita em pouco tempo, com resultados visíveis já no primeiro ano. Essas soluções baseadas na natureza combatem enchentes e inundações, ao mesmo tempo em que elevam a qualidade de vida e promovem desenvolvimento social, econômico e ambiental.
Seu trabalho sempre foi guiado pela ideia de que as cidades não devem lutar contra a natureza, mas aprender a se integrar a ela. Ele alertava sobre a urgência de adaptar o planejamento urbano a um cenário de emergências climáticas cada vez mais frequentes, com políticas integradas e multidisciplinares. Como afirmava, as mudanças climáticas não são um fenômeno distante: já estão entre nós, afetando a vida cotidiana.
Esse legado ganha ainda mais relevância diante da COP 30, que será sediada pelo Brasil. O país assumiu metas ambiciosas, como a redução de emissões até 2035 e a adaptação das cidades aos impactos climáticos. Para que isso se concretize, será necessário investir em soluções baseadas na natureza, como as defendidas por Yu.
Em Belo Horizonte, algumas iniciativas já mostram caminhos possíveis: jardins de chuva, refúgios climáticos e o financiamento do Parque Linear do Onça, na região nordeste da capital, são exemplos de como o conceito pode ser aplicado. No entanto, a implementação em larga escala ainda enfrenta desafios, envolvendo também mobilidade urbana sustentável, planejamento e gestão eficiente.
O que fica claro é que adaptação urbana não é apenas responsabilidade ambiental: é também uma estratégia econômica, social e cultural. Kongjian Yu se foi, mas sua visão continua guiando o futuro das cidades. O desafio agora é transformar esse legado em prática, criando verdadeiras cidades esponjas que absorvem, retêm e distribuem recursos de maneira justa, eficiente e sustentável.